A ocorrência policial sobre uma suposta agressão motivada por homofobia, durante festa de formatura na Associação Leopoldina Juvenil, aponta como suspeito o pai da formanda.
Zero Hora teve acesso a uma cópia do boletim nesta terça-feira (8). A ocorrência 10952/2017 foi registrada na madrugada de sábado pelo empresário e psicólogo Marcus Vinicio Beccon, 53 anos, e pelo estudante de Direito Raul Silveira Weiss, 22 anos.
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Os dois, que são namorados, indicaram o suspeito como um dos homens que teriam agredido Beccon com tapas e chutes, logo após ele receber um beijo de Weiss no salão de festas. O casal de namorados era convidado da filha do suspeito, que, na noite da última sexta-feira, comemorou no Leopoldina Juvenil sua formatura na Faculdade de Direito da PUCRS.
Na ocorrência, o casal afirma que, logo após o beijo, um grupo de convidados teria se aproximado e jogado bebida neles. Beccon teria pedido providências ao pai da formanda. Nesse momento, conforme relatado na ocorrência, Beccon "foi puxado para um canto por dois indivíduos, os quais não conseguiu identificar, que passaram a lhe agredir com chutes, pontapés, socos e tapas na cara".
O boletim também reproduz relato feito por Beccon de que, durante a agressão, teriam retirado dele seu Iphone. O aparelho teria sido devolvido no dia seguinte, por intermédio de uma amiga da formanda.
Beccon acredita ter sido vítima de homofobia e, além da ocorrência criminal, pretende processar os supostos agressores. Ele realizou exame de corpo de delito no Departamento Médico Legal e publicou nas redes sociais fotos de lesões nos braços, que teriam sido provocadas pelas agressões. Ele disse ontem que o beijo que teria desencadeado a violência foi "um selinho".
Em entrevista a Zero Hora, o empresário forneceu uma descrição mais detalhada da suposta agressão:
- Ouvi a palavra vagabundo, aí me pegaram pelas costas, me arrastaram pelo salão por uns dois metros, na frente de todo mundo, e me deram chutes e tapas. Enquanto davam tapas, tentei pegar meu celular, mas o pai da formanda arrancou-o de mim. Davam aqueles tapas de mão aberta e diziam: "Viado! Vagabundo!". E o pai dela dizia: "Aqui não é lugar para vocês, eu te falei". O Raul tentava chegar perto, me socorrer, senti a mão dele tentando me puxar, mas foi segurado. Disseram: "Cala a boca ou tu vais apanhar também". Então eu vi que deixaram a mãe da formanda entrar no meio do grupo. Eu disse: "Vou processar vocês". Vi que ela fez cara de apavorada. Depois eu soube que ela é advogada. Ela falou: "Larga ele". Foi aí que me soltaram.
Na tarde desta terça-feira, Zero Hora entrou em contato com o advogado Flávio Barros Pires, do escritório De Lia Pires Advogados, que está representando a família da formanda. Segundo o profissional, seus clientes desmentem a versão apresentada por Beccon e Weiss.
- No momento oportuno a família vai demonstrar que isso aí é uma versão escandalosa e mentirosa sobre o que ocorreu. Já temos algumas informações importantes que desmentem essa conversa fiada que está sendo feita por eles - afirmou Pires.
Entre os elementos citados pelo advogado, estariam imagens em vídeo, mas ele disse que só vai disponibilizá-las "no momento oportuno". Zero Hora pediu para ouvir a versão do suspeito ou de outro membro da família, mas advogado informou que até o momento a família não está se pronunciando.
- Temos uma reunião no fim da tarde (desta terça-feira) e vamos reavaliar isso. Provavelmente nós vamos dar uma versão dos fatos, a versão verdadeira, evidentemente. Não essa palhaçada que esta sendo dita. Acho que amanhã (quarta-feira) - disse Pires.