Podemos sair do Facebook, parar de ler jornais, abandonar as grandes cidades ou até o país, mas dificilmente ficaremos imunes ao clima de desesperança que se acomodou no Brasil nesses últimos dois anos. O fenômeno é interessante (eu o descrevo dentro de uma bolha, é claro): passamos por uma fase deslumbrada somos-capa-de-revistas-internacionais; eu disse para um estrangeiro que ele devia ir ao Brasil; achamos, os brasileiros, que a ideia de futuro não estava exatamente certa, então fomos para a rua reclamar; em algum momento, uma festinha em uma praça abandonada de Porto Alegre parecia ter o poder de mudar o mundo; comíamos pastel integral de brócolis de pé na cidade malcuidada e comemorávamos pequenas vitórias do tipo "mais um trecho de ciclovia pronto"; não estávamos gostando muito do nosso lugar, no nível municipal, estadual ou federal, mas ainda tínhamos um olhar capaz de detectar pontos positivos, como "temos uma feira orgânica excelente" e "pelo menos o ProUni, a política de cotas, sei lá”; vieram os escândalos de corrupção; as discussões se polarizaram; os olhos passaram a ver apenas o cenário pré-apocalipse; voltou a ideia de que o Brasil é a porcaria de sempre, uma porcaria para a qual não há saída; a violência aumentou, e a percepção da violência explodiu; nos sentimos bem em nossa pele por uns três dias porque a abertura da Olimpíada foi bonitona; eu nunca mais disse para nenhum estrangeiro ir ao Brasil.
Colunistas
Carol Bensimon: fins coletivos e individuais
Essa é minha última coluna. A decisão de não escrever mais crônicas é pessoal, mas passa também pelo espírito coletivo