
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, anunciou no fim da manhã desta segunda-feira (27) que irá encaminhar uma das propostas de reajuste de salários dos servidores mesmo sem o consentimento dos grevistas. A medida prevê aumento de 9,28% em quatro parcelas: 1,2% retroativo a maio; 2% a partir de outubro; 4,2% em dezembro; e 1,6% em janeiro de 2017. O avanço significa a inflação calculada no período.
O prefeito disse que o reajuste será aplicado a todos os servidores, mas os grevistas terão corte no ponto. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, ele ressaltou que não considerava novas negociações salariais após a negativa na última semana pelos trabalhadores de todas as propostas do Executivo.
“Fizemos negociação. Deixamos claro que era a última proposta que o poder público poderia apresentar, em face das dificuldades financeiras”, argumentou.
Os municipários exigiam reposição de 9,28% sem parcelamento, aumento do valor do vale-alimentação para R$ 25 e a antecipação da parcela de reajuste de janeiro para dezembro. O sindicato disse que ainda não foi comunicado oficialmente sobre a decisão, mas afirmou que ela dificulta o diálogo.
“É uma posição unilateral, que dificulta o diálogo. O nosso movimento tem buscado a negociação. Isso não facilita o término da greve”, disse o dirigente Raul Giacobone.
Dentre os motivos para não pagar o aumento, Fortunati listou a receita despendida nos hospitais, que atendem a muitos pacientes do interior. “Porto Alegre é quem mais recebe pacientes, que vêm de todo o estado. 47% são de fora de Porto Alegre. Nunca atendemos tanta gente de fora. Muito mais do interior do que da Capital. Não deveria ser assim”, reclamou.
Parcelamento de salários
Na entrevista, o prefeito também argumentou que a crise das finanças faz com que haja "um esforço monumental" para que as contas mensais sejam pagas sem atrasos. Diante das atuais condições, não descartou que, até o final do ano, os salários de servidores sejam parcelados. Entretanto, garantiu que trabalhará nos próximos meses para evitar que isso ocorra.
"Eu sei o quanto é nocivo parcelamento de salários", definiu.
A superlotação nos hospitais
Fortunati também se queixou novamente da superlotação dos hospitais da Capital. Ao falar sobre o assunto, destacou que Porto Alegre, além da demanda da população local, tem de atender a muitos pacientes do interior do Estado. Além disso, sublinhou que a diminuição das receitas públicas representa outro empecilho para que o problema seja amenizado.
"Há queda de arrecadação. E, como gestor, tenho que investir cada vez mais em áreas como a saúde", frisou.
"Não utilizo o Uber"
Durante a entrevista à Gaúcha, Fortunati ainda foi questionado sobre a atuação do Uber em Porto Alegre. Para ele, o serviço "veio para ficar", mas ainda é "clandestino".
De acordo com o prefeito, que disse não utilizar o Uber, um projeto de lei foi enviado à Câmara dos Vereadores para a discussão das condições necessárias para que os aplicativos de mobilidade urbana operem na cidade.
"Obviamente, entendo que a empresa Uber não pode funcionar sem a devida regulamentação", argumentou.
Situação das obras de trânsito
Ao avaliar a situação das obras de mobilidade urbana, Fortunati classificou as dificuldades econômicas do país como um dos entraves para a conclusão de projetos como o da Estrada do Caminho do Meio, entre Porto Alegre, Alvorada e Viamão.
"É uma obra federal. No governo Tarso Genro, construímos uma alternativa e fomos em busca de recursos (...). Só que todos os recursos do governo federal estão sendo contingenciados", avaliou.
Aumento do número de moradores de rua
Fortunati ainda analisou a situação dos moradores de rua da Capital. Na visão dele, o aumento do número de pessoas nessa situação não é decorrente de falhas da administração municipal. Para o prefeito, há um "modelo econômico que exclui muita gente".
"A prefeitura não falhou. Não é só em Porto Alegre. Recebi um parisiense. Ele disse que Paris está lotada de moradores de ruas. Infelizmente, é um fenômeno do modelo econômico, que exclui muita gente. Com a crise, isso acabou crescendo".
Além disso, Fortunati mencionou que muitos moradores de rua não aceitam ir para abrigos devido a diferentes situações. Para tentar melhorar esse quadro, ele destacou a construção de um canil para os animais de estimação dos desabrigados.