O número de passageiros do sistema metropolitano caiu 6,1% na Região Metropolitana em um ano, de acordo com levantamento feito pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU). No país, o mapeamento feito em 16 grandes cidades apontou para a diminuição de 4,1%, em média, no número de usuários pagantes de ônibus urbanos no ano passado em relação a 2014, sendo que em Porto Alegre a queda foi de 1,9%.
O resultado negativo teve a porcentagem mais expressiva da década, mas não é um fenômeno novo no país. Trata-se do quarto ano seguido com queda: registrou-se -1,8% em 2012, -1,4% em 2013 e -2% em 2014.
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Para Luis Antonio Lindau, especialista em transporte e diretor-presidente do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, com o serviço oferecido atualmente no país, surpreendente seria se mais pessoas começassem a usar ônibus:
– É previsível, e a projeção é de perder mais usuários ainda.
Entre os motivos para a queda, ele destaca a baixa qualidade do serviço e a falta de prioridade do transporte público pelo poder público. Lindau defende que os espaços destinados para ônibus não são suficientes.
– Cada vez mais a velocidade do transporte público reduz em função do congestionamento – diz.
Ele destaca que também há mais gente motorizada – a frota em circulação na Capital aumentou de 591.598 em 2007 para 820.351 em 2015, segundo dados do Detran. Para Lindau, isso ocorre porque o custo de ter carro é relativamente barato no país.
– Não é cobrada a poluição e o congestionamento que gera – destaca.
A falta de segurança pública, dentro do ônibus e nas paradas, também é um fator apontado pelo especialista, e é a maior preocupação do serviços gerais Alexandre Batista de Oliveira, 38 anos, que pega ônibus diariamente.
– Minha tia já foi assaltada duas vezes, e, na segunda-feira, meus amigos foram roubados ao meio-dia na parada. As paradas não têm iluminação suficiente e falta policiamento – relata, reclamando também do preço da passagem.
A vendedora Silvana Dias, 20 anos, destaca que, se tivesse outra opção, não pensaria duas vezes em dizer adeus às catracas.
– O ônibus demora demais – diz.
Com exceção da Região Metropolitana de Porto Alegre, que analisou o total de passageiros, o levantamento leva em consideração a demanda de usuários equivalentes, ou seja, não considera os isentos.
Desempregos justificam parte da queda
Nos anos anteriores, a compra de automóveis e, principalmente, de motocicletas era apontada como o principal motivo para a diminuição de passageiros de transporte público. Mas se em 2011 foram registrados 53.833 primeiros emplacamentos de carros e 7.350 de motos em Porto Alegre, em 2015, esse número despencou para 36.457 e 4.728, respectivamente.
Para Erico Michels, gerente da Associação dos Transportadores Intermunicipais Metropolitanos de Passageiros (ATM), agora o número de passageiros tem caído em razão do aumento do desemprego no país.
– O desempregado vai racionalizar suas viagens ou achar outra forma de deslocamento que não pague, como ir a pé, pegar carona ou andar de bicicleta – apontou.
Analisando os primeiros meses do ano, Michels acredita em 2016 ainda a situação ainda não deve ser revertida.
O gerente-executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Porto Alegre (Seopa), Luiz Mario Magalhães Sá, destaca que aumentou o número de usuários isentos, que não são considerados no levantamento. Para Luiz Mario, houve uma "leve queda" no número de passageiros. O sindicato não disponibiliza dados próprios sobre essas questões.