Ex-moradoras das margens da ERS-118, 928 famílias de quatro cidades da Região Metropolitana estão desde 10 de agosto à espera do repasse do aluguel social deste mês, que deveria ter sido pago pelo Estado. Com as contas a pagar se acumulando e sem uma resposta concreta da Secretaria Estadual de Habitação e Saneamento sobre a data de pagamento, os moradores deram início a uma sequência de protestos bloqueando a via no Km 2 todos os dias, desde 20 de agosto, no Bairro Capão da Cruz, em Sapucaia do Sul.
- Só estamos exigindo aquilo que nos prometeram. Morei durante 30 anos nas margens da estrada e me tiraram de lá com a promessa de que ganharia uma casa em um ano. Estou há três anos no aluguel social - contou Carlos Arthur Schmidt, 61 anos, morador de Sapucaia do Sul, aposentado por invalidez e que vive com um salário mínimo mensal.
Protestos
Hoje, por volta das 13h30min, pelo quinto dia seguido, cerca de 60 pessoas fecharam as duas pistas da ERS-118. Com pneus, pedras e galhos de árvore, elas exigiram um retorno do Estado sobre o atraso deste mês. Eles ficarão até 19h30min trancando pelo menos uma das pistas da rodovia.
- O problema é que, desta vez, não nos avisaram e nem demonstraram interesse em negociar. Os proprietários das casas já estão pedindo elas de volta. Entreguei a minha e estou morando de favor com a mulher e os três filhos numa outra casa - revelou Julio Cezar de Oliveira, 35 anos, motorista desempregado.
Reunião
Das 928 famílias, 712 seguem morando em Sapucaia do Sul, 152 em Gravataí, 61 em Cachoeirinha e três em Porto Alegre. Cerca de 60% delas recebem os R$ 500 mensais no pagamento do dia 10. O restante, no dia 25. Segundo o diretor estadual de Habitação, Eduardo Fiorin, até o final desta semana o Estado pagará o valor de R$ 263 mil, valor suficiente para pagar o aluguel a 526 famílias (56% do total). As demais receberão na semana seguinte.
Amanhã, o diretor receberá uma comissão de ex-moradores da rodovia para explicar a situação econômica do Estado e como serão feitos os repasses deste mês.
- Tivemos um problema com as contas do Estado (bloqueio das contas pela União) que só foram liberadas na quinta-feira passada. Por isso, ocorreu este atraso. A intenção é pagar o quanto antes - afirmou Eduardo.
"Não somos vagabundos"
Enquanto a situação não se resolve, as famílias dos irmãos Cristiano Machado Soares, 26 anos, e Marcos Aurélio Dias Machado, 40 anos, que se criaram às margens da rodovia, seguem à espera do fim do impasse. Motoboy autônomo, Cristiano tem renda mensal que chega a R$ 700 e não tem como pagar o aluguel de R$ 500 exigido pelo proprietário da casa onde hoje mora com a mulher e o filho de três anos.
- Não somos vagabundos, como alguns falaram quando iniciamos os protestos. Durante quase 40 anos, minha família teve três casas num terreno de 20mx40m, ao lado da ERS-118. Hoje, não temos nenhuma e nem sabemos se algum dia voltaremos a ter - desabafou Cristiano.
Entenda o caso
* A obra compreende um trecho de 22 quilômetros que liga Sapucaia do Sul a Gravataí, passando por Esteio e Cachoeirinha.
* Antes do início da duplicação, 1.226 famílias residiam às margens da ERS-118, no trecho que compreende a obra. As que não foram para o aluguel social insistem em continuar no local. O Estado teve de ingressar na Justiça com ações de reintegração de posse.
* O projeto de duplicação da ERS-118 foi elaborado pela primeira vez em 1996, segundo informações da Secretaria-Geral de Governo (SGG).
* A ordem de início para a primeira parte da obra, que compreende o trecho do quilômetro 11 ao 22, só foi assinada em 2006. A obra foi feita pela Triunfo.
* Em 2010, a segunda parte da obra teve início autorizado. A duplicação envolve o trecho do quilômetro 5 ao 11, e é realizada pela Sultepa.
* Em 2013, o lote final da duplicação, que compreende o trecho do quilômetro 0 ao 5, teve ordem de início assinada em 2013 e é de responsabilidade da Conterra.
Cristiano espera pelo aluguel social
Foto: Mateus Bruxel