Um dos serviços mais utilizados e comemorados em Porto Alegre nos últimos anos pode parar de funcionar por tempo indeterminado. O BikePoa, opção de aluguel de bicicletas com 153 mil usuários cadastrados, em operação há três anos na Capital, passará por um novo processo de licitação - o que deveria ter ocorrido em julho. Caso a vencedora da disputa não seja a mesma empresa que detém o contrato atualmente, está prevista interrupção das viagens para a troca de equipamentos.
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O problema é semelhante ao registrado com os relógios digitais e com os parquímetros, que ficaram ou estão fora de operação por demora envolvendo o processo de licitação. A possibilidade de paralisação preocupa usuários e associações de ciclistas, que apontam a falta de planejamento como o principal responsável pelo cenário. Para Cadu Carvalho, coordenador de comunicação da associação Mobicidade, a possível suspensão do serviço reflete problemas de gestão por parte da prefeitura:
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- É algo muito triste e preocupante para a cidade. Com um pouco de planejamento seria possível resolver a questão. Muitas pessoas utilizam as bicicletas do BikePoa como meio de transporte para o trabalho, e deixar elas sem o serviço é irresponsabilidade.
Pablo Weiss, membro da Associação dos ciclistas de Porto Alegre (ACPA), também entende que a administração municipal deveria estar preparada e se planejar previamente para as eventuais mudanças. A possibilidade de uma nova empresa ganhar o processo de licitação, entretanto, não é vista com maus olhos por ele:
- O serviço do BikePoa que temos atualmente é bastante deficitário. As condições das bicicletas não são boas, não recebem manutenção frequente, e as estações ainda estão muito concentradas nas zonas centrais da cidade, deixando de atender a periferia. Diante disso, se existe a possibilidade de outra empresa vir a prestar o serviço, pode ser benéfico para os moradores.
Entre as mudanças previstas na nova licitação, está a ampliação de 40 para 80 estações até o final do futuro contrato, e o pagamento de parte das receitas para a prefeitura, que, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), utilizará os recursos para a compra de material para fiscalização.
O edital para a licitação, que deveria ter saído em julho, está previsto para até o final deste mês, por meio de pregão eletrônico, conforme a Secretaria Municipal da Fazenda. Caso vença a atual empresa administradora, a Serttel, o serviço não sofrerá descontinuidade. Caso contrário, os usuários poderão enfrentar problemas para utilizar o serviço por tempo ainda indeterminado e, nesta situação, a prefeitura afirma que está elaborando estratégias para minimizar os prejuízos aos usuários:
- Estamos buscando um meio jurídico de prever, caso haja outro vencedor, que a atual empresa possa ir administrando o sistema para que o tempo de interrupção do serviço seja menor, questão de dias. Como é um serviço que não traz custo à prefeitura, não teria problema - explica o diretor-presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari.
A previsão da prefeitura não serve como alento para os usuários que já passam pensam em formas alternativas de se locomover. Para o garçom Gibson Luis Munhoz, de 59 anos, que há três anos utiliza aluguel de bicicletas diariamente para ir e voltar ao trabalho, as demais opções significam mais tempo no trânsito e menos dinheiro no bolso. Morador do bairro Menino Deus, leva cerca de 15 minutos para chegar de bicicleta ao restaurante onde trabalha, no Centro. De ônibus, levaria quase uma hora:
- Se pego um ônibus, além de gastar muito mais com as passagens de ida e volta, perco mais de 40 minutos no transporte. Como começo a trabalhar às 8h, isso significa ter que sair bem mais cedo de casa. A outra opção seria ir a pé, mas também perderia muito mais tempo. A situação é realmente preocupante para pessoas como eu, que utilizam e precisam do serviço diariamente - lamenta.
Para aqueles que andam nas bikes como forma de lazer, o incômodo não é menor. Os estudantes de arquitetura Mateus Vitavar, 24 anos, e Vinicius Turra, 21, que costumam alugar as bicicletas durante os finais de semana para passear em diferentes pontos da cidade, entendem que a suspensão do serviço vai na contramão do investimento que vem sendo feito na mobilidade da cidade.
- Vejo muita gente se locomovendo com as bikes, e interromper o serviço é um tiro no pé. Temos que ter uma visão mais crítica e cobrar um maior planejamento, para que as ações como essa consigam se desenvolver de forma constante - afirma Vitavar.
O que deve mudar
- O contrato atual com a Serttel, e patrocínio do banco Itaú, expira no dia 22 de setembro.
- O edital, que estava previsto para julho, atrasou. Ele deve ser lançado até o final do mês de agosto.
- A empresa vencedora deverá ser anunciada até o final de setembro.
- A empresa que ganhar a licitação irá operar o serviço durante cinco anos e, assim como o modelo atual, poderá utilizar patrocínio externo.
- Entre as mudanças previstas no novo contrato está o aumento no número de estações: de 40, passarão a ser 80 até o final do futuro contrato.
- O novo edital também prevê o pagamento da parte das receitas à prefeitura. A EPTC diz que os recursos serão usados para compra de material para fiscalização.
- O preço ao usuário será o mesmo, de R$ 5 por viagem, ou R$ 10 por mês.