Ainda que seja um meio de transporte tão rápido quanto o carro e o que sofre menos impacto do trânsito nos horários de pico, o catamarã ainda é pouco utilizado por pessoas que se deslocam entre a zona sul e o centro de Porto Alegre.
O teste foi realizado simultaneamente por Zero Hora com os três meios de transporte, nestas segunda e terça-feira, dois meses após a inauguração da nova rota do catamarã. Três repórteres percorreram o trajeto, nos dois sentidos. Jaqueline Sordi foi de carro, Bruna Scirea pegou o ônibus, e Débora Ely fez a travessia hidroviária - e foi a única passageira a embarcar no píer do Cristal, nesta terça-feira, com direção ao Centro (os demais passageiros faziam o trajeto Guaíba-Centro).
Nesta manhã, o catamarã levou 14 minutos e 13 segundos desde a Zona Sul até o Centro. Foi 10 segundos mais rápido do que o carro e chegou cinco minutos antes do ônibus. O valor do trecho é de R$ 5, e a travessia oferece wi-fi e televisores aos "viajantes". Só que, ainda que seja o mais veloz dos três, o trajeto hidroviário não é o preferido pela população.
- Não completamos nem três meses da nova rota do catamarã. Então, podemos dizer que as pessoas ainda não tiveram tempo para ter o hábito, para fazer da embarcação um meio de transporte diário. Ela tem o mesmo custo de um lotação, é mais barata do que um táxi e não tem o problema do carro, que acaba ficando ainda mais caro em função do estacionamento - afirma Carlos Bernaud, diretor da Catsul, empresa responsável pelo serviço.
ZH realizou o mesmo teste em dezembro de 2014. Confira.
Segundo a empresa, o público que usa a nova rota do catamarã é formado essencialmente por turistas e clientes do BarraShoppingSul. A empresa não divulgou a média diária de passageiros - a justificativa é de que é necessário esperar fechar os primeiros 90 dias de serviço para se ter o número. Para o professor da UFRGS e doutor em Sistemas de Transportes e Logística João Fortini Albano, a baixa procura pelo catamarã deve-se à posição do píer da Zona Sul, que, afastado de outros pontos comerciais, beneficiaria somente clientes e funcionários do shopping.
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Na segunda, quando foi feito o sentido contrário, o resultado foi semelhante: a embarcação levou 12 minutos e seis segundos do Centro à Zona Sul - chegando 7 segundos antes do carro e mais de 10 minutos à frente do ônibus. Quando tomou o catamarã no Centro, a repórter foi acompanhada de 25 passageiros - mas só ela desceu no píer da Zona Sul, os outros desembarcaram em Guaíba.
Ônibus demorados, mas mais baratos
Enquanto sobravam bancos na embarcação, passageiros se apinhavam nas linhas de ônibus que faziam o mesmo deslocamento. A repórter Bruna Scirea percorreu todos os cerca de oito quilômetros na linha 165 (Cohab), até a Avenida Borges de Medeiros, em pé. No trajeto contrário, no dia anterior, tomou a linha 188 (Assunção) na Rua Uruguai, no Centro, e só conseguiu um lugar para se sentar nos últimos cinco minutos antes do desembarque na Avenida Chuí - o deslocamento completo durou 20 minutos.
Em fevereiro, a passagem do transporte coletivo na Capital subiu para R$ 3,25 - o aumento no valor da tarifa e a qualidade dos ônibus foram motivos para protestos em Porto Alegre. Ainda assim, é o meio mais barato - e, também, o mais lento no deslocamento entre Centro e Zona Sul. O diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, alega que, entre moradores de capitais brasileiras, porto-alegrenses são os que gastam menos tempo dentro dos ônibus. Segundo pesquisa da ONG Proteste, divulgada em janeiro, os porto-alegrenses ficam, em média, 56 minutos por dia nos coletivos - enquanto a média nacional é de 80 minutos diários.
- E já existem casos em Porto Alegre em que o ônibus é mais rápido do que o carro. É o caso do corredor de ônibus das avenidas Cavalhada, Teresópolis e Nonoai. Antes dele, os coletivos levavam o dobro do tempo do carro. Hoje, naquele trecho, os ônibus chegam três minutos antes que os veículos - afirma Cappellari.
A repórter Jaqueline Sordi, que fez o percurso de carro, não encontrou lentidão no trânsito em nenhum dos sentidos. O custo médio com gasolina foi de R$ 2,50 em cada trecho. É preciso considerar, no entanto, que, caso quisesse estacionar o veículo no Centro, certamente perderia alguns minutos na busca por uma vaga na rua ou desembolsaria cerca de R$ 10 por uma hora em um estacionamento.
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Segundo Albano, os dois fatores que mais pesam na escolha do meio de transporte usado diariamente são, em primeiro lugar, o cust, seguido do tempo necessário para se chegar ao destino final.
- O tempo é um dos maiores valores da vida moderna, mas é também preciso considerar o custo diário com o transporte. Neste sentido, ainda que levem mais tempo do que os outros meios (nos casos apresentados, uma média de oito minutos a mais), os coletivos são mais baratos e continuam sendo a opção do trabalhador que faz esse trajeto em Porto Alegre.
Repórter Bruna Scirea fez o trajeto entre o Centro e a Zona Sul de ônibus
Foto: Tadeu Vilani/AgênciaRBS
CENTRO - ZONA SUL
Linha 188 (Assunção), STS, saída do Terminal Uruguai: 7h51min
Chegada à parada de ônibus na Av. Chuí (ao lado do BarraShoppingSul): 8h14min
Tempo de viagem: 22 minutos e 30 segundos
Custo da passagem: R$ 3,25
Prós: a passagem custa quase a metade do valor do catamarã, horários mais frequentes, acesso mais fácil, itinerário amplo
Contras: deslocamento mais lento por causa do arranca e para, lotação dos veículos, sofre o impacto do trânsito, possibilidade de entrar em veículos sem ar-condicionado
ZONA SUL - CENTRO
Linha 165 (Cohab), STS, saída da Av. Chuí: 8h39min
Chegada à parada na Av. Borges de Medeiros (próximo à Riachuelo): 8h59min
Tempo de viagem: 19 minutos e 30 segundos
Custo da passagem: R$ 3,25
Teste ZH
Mais rápido do que ônibus, catamarã é pouco procurado da Zona Sul ao Centro
Trajeto hidroviário foi comparado com deslocamentos de ônibus e carro na manhã desta terça-feira
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