
A federação entre Progressistas e União Brasil não deve mudar os planos dos diretórios gaúchos, que já começam as articulações para as eleições de 2026. A bancada do PP aprovou, na última terça-feira (18), a parceria entre as legendas. Já o União Brasil deve bater o martelo nesta ainda sexta-feira (21) sobre o tema.
O deputado Covatti Filho, presidente do PP no RS, se mostrou satisfeito com a união dos dois partidos, e entende que a parceria vai alavancar ainda mais seu projeto de ter um candidato progressista na disputa pelo governo do Estado em 2026. Além disso, Covattinho alega ter bom relacionamento com os parlamentares e com a direção estadual do União Brasil, a quem pretende apresentar o projeto do Progressistas para o próximo pleito.
— Pesquisas demonstram que a população tem dúvida em quem votar, então há espaço pra gente construir. Isso é bom porque a federação vai sair já com dois minutos de propaganda na TV, bons recursos do fundo partidário. Agora é cada vez mais alinhar, ouvir eles, pra gente criar esse espaço. Temos muitas parcerias no Interior e uma afinidade de relacionamento — avalia Covattinho.
O presidente progressista enxerga espaço para a construção de uma candidatura própria no cenário gaúcho, mas admite que ainda é preciso construir consensos internos a respeito da proposta e de nomes para a disputa.
Por enquanto, a única certeza de Covattinho é de que as conversas com partidos como o MDB – que deve lançar o vice-governador Gabriel Souza para a sucessão do atual governo – e o PL – que planeja uma frente de partidos da direita em torno da provável candidatura do deputado Luciano Zucco – será para "entender se eles querem fazer parte do nosso projeto".
— Partido grande que não pensa grande se apequena. Por enquanto não vamos nos agregar a nenhum projeto. Tem espaço para construirmos uma candidatura própria.
No cenário nacional, a parceria entre as siglas cria uma espécie de "superpartido" em poder de barganha, já que reunirá a maior bancada na Câmara dos Deputados – com 109 parlamentares, contra os 91 do PL – e terá cerca de R$ 1 bilhão do fundo partidário disponível para campanhas e funcionamento das legendas.
União Brasil avalia condições
O presidente do União Brasil gaúcho, deputado federal Luiz Carlos Busato, diz que conversou na quinta-feira (20) sobre o tema com o presidente nacional da sigla, Antônio Rueda. Busato afirma que a federação será bem-vinda desde que não provoque prejuízos eleitorais à legenda e à sua próxima candidatura.
— Eu expliquei para ele (Rueda) a situação daqui, que é diferente de alguns outros Estados, como na Bahia, em que favorece muito o União Brasil. Em três anos, já temos mais de 250 municípios, 21 prefeitos, 25 vices, incluindo cidades grandes como Caxias e Canoas, além de 230 vereadores. O União Brasil gaúcho é um partido de médio para grande porte — pontua.
Uma das condições que Busato pretende estabelecer em diálogo com Covatti Filho sobre a federação será a restrição do ingresso de parlamentares vindos de outras siglas com potencial para fazer mais de 100 mil votos, o que poderia prejudicar a sua candidatura. O deputado diz que, caso essas condições não sejam respeitadas, ele considera, inclusive, a possibilidade de deixar o partido.
— Não posso ficar em uma federação em que eu saiba que não vou me eleger. Vou sentar com o Covatti e vamos estabelecer essas regras. Se tudo der certo, seguimos em frente. Se não chegarmos a um acordo, vou procurar outro partido.
Para exemplificar a importância de um consenso dentro da composição, Busato relembrou o racha ocorrido entre a federação PSDB-Cidadania nas eleições municipais de Porto Alegre do ano passado, em que os tucanos apoiaram Juliana Brizola (PDT) e o Cidadania, Sebastião Melo (MDB). Contudo, ele frisa que, havendo os ajustes necessários, a união dos partidos será positiva, uma vez que fortalece ambas as siglas.
Até o início da próxima semana, uma reunião deve ser feita pela direção nacional do partido para comunicar a decisão final sobre a federação.
Impactos na balança política
O cientista político e doutor em Sociologia e Política pela PUCRS, Marcos Quadros, faz uma análise de conjuntura sobre a composição entre os dois partidos. Ele comenta que as federações partidárias tendem a visar sobretudo a ampliação do poder de barganha, do volume de palanques locais e do acesso a determinados recursos, compondo uma estratégia eleitoral mais ampla. Ele diz que, nesse sentido, os aspectos estritamente programáticos importam menos na balança de negociações.
— O caso da eventual federação entre o União Brasil e o Progressistas não é de todo diferente. A despeito de ambos os partidos terem origem na direita, boa parte de seus membros se enquadra nas fileiras do chamado “Centrão”, aderindo a diferentes governos e alianças conforme os interesses do momento e a orientação dos caciques partidários. Separados ou não, é assim que esses partidos vêm se comportando.
O pesquisador comenta ainda que, apesar do alinhamento ideológico à direita, ambos os partidos também estão alinhados à base governista em Brasília.
— Embora tenhamos importantes exceções (como ocorre, por exemplo, com os progressistas do RS, que são bem mais coesos ideologicamente e frequentemente contestam as lideranças nacionais), ambos os partidos pertencem formalmente à base do governo Lula e ao mesmo tempo estiveram com o PL em diversas cidades no pleito municipal de 2024.
Para o professor, a federação traria robustez a uma possível candidatura de Ronaldo Caiado (União) ao Planalto, principalmente no jogo de forças interno que a direita precisará enfrentar para definir rumos devido à inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Quadros sublinha que um único candidato à direita seria mais prudente para evitar a fragmentação de votos mediante à força da polarização Lula-Bolsonaro, que tende a inviabilizar uma terceira via.
— Mas, independentemente do número de candidatos, o fato é que a direita verá um representante seu no segundo turno, e esse representante, quem quer que seja, congregará os votos que ela possui. Logo, a federação União-Progressistas pode impactar a consolidação inicial do tabuleiro eleitoral, embora o resultado da eleição propriamente dito dependa de fatores muito mais amplos — conclui.