A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pode fazer uma "dobradinha" com a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP) no Ministério do Meio Ambiente. A ideia é defendida, nos bastidores, pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda há divergências no PT sobre como seria a configuração desse modelo.
Marina foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato de Lula, quando ainda era filiada ao PT, mas saiu desgastada com o partido. Se depender da cúpula do partido, Simone será titular do Meio Ambiente e Marina ficará com a Autoridade Climática, cargo a ser criado.
A ideia é que a Autoridade Climática seja acomodada sob a estrutura do Meio Ambiente. Até agora, porém, Marina resiste a essa configuração e prefere ser ministra. Simone, por sua vez, não quer entrar em atrito com a colega.
Terceira colocada na disputa presidencial, a senadora do MDB apoiou Lula no segundo turno da campanha. Ela só não entrou na lista de ministros anunciada na quinta-feira (22) porque Lula cedeu à pressão do PT. Simone queria comandar o Desenvolvimento Social, mas a pasta é vista pelo partido como "coração do governo". O ministério foi entregue ao senador eleito Wellington Dias (PT-PI), ex-governador do Piauí, Estado onde Lula lançou o Fome Zero, em 2003. Foi esse programa que deu origem ao Bolsa Família, considerado vitrine da gestão petista. Para a cúpula do PT, não era aceitável deixar Simone, uma possível adversária na disputa de 2026, em um cargo de tanta visibilidade e com um dos maiores orçamentos da Esplanada.
Ao anunciar a lista com 16 ministros, Lula disse ser mais difícil montar um governo do que ganhar as eleições. Nas entrelinhas, ele mandou um recado a Simone ao observar que ele e o PT são "devedores" de muitos que o ajudaram na campanha.
— O presidente Lula sabe do papel que teve e tem a senadora Simone Tebet — afirmou Dias.
No relatório final do gabinete de transição, a proposta é que a Autoridade Climática funcione como uma espécie de autarquia vinculada ao Meio Ambiente. Marina não concorda e quer que o cargo seja diretamente subordinado ao ministério. Dirigentes do PT, por sua vez, avaliam que seria recomendável a função ficar sob a estrutura da Presidência da República.
Diante dessas dúvidas, a situação de Simone não está definida. A aliados, a senadora que deixa o mandato neste ano tem dito que prefere ficar fora do governo a receber um "prêmio de consolação".
MDB
Lula recebeu na quinta o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Eduardo Braga (AM), além do líder do partido na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), para tratar da participação do partido no governo.
O presidente eleito dará três ministérios ao MDB, garantindo Simone no primeiro escalão. Na reunião, Lula disse que Simone entrará na equipe em sua cota pessoal. O senador eleito Renan Filho (AL) ficará com Transportes e o deputado José Priante (PA) é o nome indicado até agora para o Ministério das Cidades, que será recriado. Priante é primo do governador do Pará, Helder Barbalho, que ainda será consultado.