O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes voltou a criticar duramente neste sábado (1º) a condução do governo federal no enfrentamento da pandemia do coronavírus, afirmando que vivemos uma situação de "constrangimento" e que há uma "certa ausência de atuação" do Ministério da Saúde.
Gilmar também afirmou que a situação apenas não é mais massacrante por conta da atuação dos governadores e do Sistema Único de Saúde (SUS).
As declarações do ministro foram dadas durante transmissão ao vivo promovida pelo Instituto de Direito Público.
O ministro do STF disse que estamos chegando ao "macabro" número de 100 mil mortos, em um campeonato extremamente constrangedor de que quem registra mais óbitos.
— Eu acredito que nós estamos agora em tempos de pandemia com esse alto constrangimento que estamos a enfrentar, são mais de 92 mil mortos a esta altura e nos avizinhamos desse macabro número de 100 mil mortos no Brasil, um campeonato extremamente constrangedor que nós nunca gostaríamos de vencer — disse.
— Não obstante, me parece que não chegamos a resultados ainda mais massacrantes ainda piores graças ao SUS e isso tem sido falado pelo ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta. Ele se revela um grande ativo nesse contexto. E, acho, graças às ações dos governadores, que foram extremamente pró-ativos nesse contexto — completou.
Ao criticar o governo federal, Gilmar afirmou que a "cabeça do sistema" está extremamente "comprometida".
— Vemos quase que uma certa ausência de atuação por parte do Ministério da Saúde. Nós vemos que aquilo que os burocratas chamam de cabeça do sistema acabou sendo comprometida. Isso é extremamente grave — completou.
No mês passado, ao se referir à situação da covid-19 no Brasil, o ministro afirmou que o Exército se associava a um genocídio. A pasta da Saúde é comandada interinamente há mais de dois meses pelo general Eduardo Pazuello.
A declaração deu início a uma crise institucional.
Como resposta, o Ministério da Defesa divulgou uma nota assinada pelo ministro Fernando Azevedo e Silva e pelos comandantes das três Forças, na qual repudiaram "veementemente" as declarações do ministro e disseram que esses comentários causavam indignação.
O Ministério da Defesa acionou a PGR (Procuradoria-Geral da República), que ingressou com uma representação contra o ministro.
O vice-presidente Hamilton Mourão também disse que Gilmar havia "cruzado a linha da bola".
A crise se arrefeceu após telefonema do presidente Jair Bolsonaro ao ministro. Gilmar também conversou com Pazuello.