O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se somou às críticas feitas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, à operação Lava-Jato e afirmou ter a impressão de que o Ministério Público gosta de controlar, mas não quer ser fiscalizado.
Na terça-feira (28), Aras disse que não podia aceitar que houvesse documentos invisíveis à corregedoria.
— É um estado em que o procurador-geral da República não tem acesso aos processos, tampouco os órgãos superiores, e isso é incompatível — afirmou.
Em entrevista ao apresentador José Luiz Datena nesta quarta-feira (29), Maia concordou com o procurador-geral e afirmou que houve excessos no Ministério Público.
— A crítica que eu faço é exatamente que me dá a impressão muitas vezes que o Ministério Público é um órgão fundamental para o nosso país, para a nossa democracia, para o nosso futuro, para o nosso desenvolvimento... Claro, o trabalho que eles fazem é fundamental. Mas a impressão que me dá é que não gostam de ser fiscalizados, muitas vezes — disse.
Maia criticou o fato de o procurador-geral, que é responsável por todos os Ministérios Públicos, não ter acesso a informações dentro da estrutura do órgão. Também disse que, ao contrário do que ocorre no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há poucas punições e afastamentos no Ministério Público.
— O que eu acho é que se cumpre o papel de controlar os outros e não se tem o papel de controlar o Ministério Público — afirmou.
O deputado citou episódios de votações na Câmara que, de acordo com ele, eram antecedidas por coletivas de membros da Lava-Jato com críticas ao que seria apreciado na Casa.
— Em determinado momento, qualquer coisa que a gente ia votar, tinha uma coletiva lá do pessoal de Curitiba, "não pode votar isso, não pode votar aquilo", como se fossem um árbitro, uma figura acima do bem e do mal — criticou Maia, o qual afirmou que o Ministério Público não pode estar blindado.
— Eu lembro que, num país que quer ser democrático, a liberdade de imprensa é fundamental, a liberdade de expressão é fundamental, mas o devido processo legal também é fundamental, porque senão não é uma democracia — afirmou.
Na entrevista, o presidente da Câmara também falou sobre o racha recente que ocorreu com a saída de DEM e MDB do blocão, que hoje reúne formalmente nove legendas e 221 parlamentares, dentre eles muitos do centrão. O desembarque ocorreu em meio à disputa pela sucessão da Presidência da Câmara e também após a aproximação do centrão ao governo de Jair Bolsonaro.
Maia negou que a saída de DEM e MDB do grupo tenha relação com a eleição de 2021 na Câmara e chamou de desinformação as notícias que saíram sobre o assunto na mídia.
— Está parecendo que MDB e DEM saíram do bloco para questionar a liderança do deputado Arthur Lira (PP-AL), a sua força. Não tem nada a ver uma coisa com a outra — disse.
Segundo ele, a saída dos partidos do blocão foi um processo natural de desfazimento do grupo formado para compor a Comissão Mista de Orçamento (CMO) em fevereiro.
— O desfazimento do bloco é natural a cada ano e não há nenhuma tentativa de enfraquecer a liderança de ninguém, muito pelo contrário — afirmou. — (Não houve) nenhuma tentativa de enfraquecer a liderança do líder Arthur Lira, de desqualificar o trabalho dele, muito pelo contrário. É o líder que tem individualmente mais força, tem um partido unido, o qual ele lidera com muita força — esclareceu.