O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-juiz da Lava-Jato em Curitiba Sergio Moro afirmou na manhã desta quarta-feira (29) que "desconhece segredos ilícitos" da operação que comandou por mais de quatro anos, destacando que a mesma "sempre foi transparente" e teve decisões confirmadas por tribunais superiores.
A indicação se dá após o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, afirmar que "é hora de corrigir rumos para que o lavajatismo não perdure" e falar em uma "caixa de segredos" da operação.
Em transmissão ao vivo realizada nesta terça (28), Aras disse que a Lava-Jato teve um papel relevante, mas, segundo ele, "deu lugar a uma hipertrofia".
O procurador-geral da República alegou, ainda, que busca transparência do Ministério Público Federal (MPF) e apontou que a unidade de Curitiba tem 350 terabytes de informações e dados de 38 mil pessoas.
— Ninguém sabe como foram escolhidos, quais os critérios. Não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com segredos, com caixas de segredos — afirmou.
Além de Moro, o procurador Roberto Pozzobon, integrante da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, também reagiu às falas do chefe do Ministério Público Federal, dizendo que "transparência faltou mesmo no processo de escolha do PGR pelo presidente Jair Bolsonaro". Aras foi o primeiro indicado à chefia do MPF em 16 anos que não constava em lista tríplice formulada em votação entre procuradores.
As declarações de Moro e de Aras se dão em momento de atrito entre procuradores federais e a cúpula da PGR. O estopim da crise foi uma diligência da subprocuradora Lindora Maria Araújo, nome de confiança de Aras, para busca de informações da força-tarefa da operação em Curitiba. A PGR pediu ainda acesso às informações das unidades da operação no Rio de Janeiro e em São Paulo.
No início do mês, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, determinou às forças-tarefa que apresentem dados e informações da operação à PGR.
Em outra linha, a Procuradoria-Geral da República propôs a criação da Unidade Nacional Anticorrupção (Unac) no MPF, o que centralizaria em Brasília o controle de operações e passaria a administração das bases de dados das forças-tarefa para uma secretaria ligada à Procuradoria. O relator da proposta, subprocurador Nívio de Freitas, disse em entrevista ao Estadão ser contra o compartilhamento irrestrito de dados da Lava-Jato com PGR.
Moro já criticou manifestações de Aras sobre a força-tarefa, defendendo a "autonomia funcional" das mesmas e indicando que falta apoio da cúpula da PGR ao trabalho dos procuradores.
— Não entendo essa lógica do revisionismo, como se a Lava-Jato não representou algo extremamente positivo, que foi uma grande vitória contra a impunidade da grande corrupção. Quem ataca a Lava-Jato hoje eu sinceramente não entendo bem onde quer chegar — afirmou o ex-ministro em entrevista ao Estadão no início do mês.
Nesta semana, em entrevista ao jornal britânico Financial Times, o ex-juiz disse que o governo de Jair Bolsonaro usou sua presença na equipe ministerial como desculpa para demonstrar que medidas anticorrupção estariam sendo tomadas. O ex-ministro afirmou que o governo não estava fazendo muito e que esta agenda tem sofrido reveses desde 2018, quando Bolsonaro se elegeu.