Sob gritos de “Simon, guerreiro, do povo brasileiro”, Pedro Simon entrou no salão do Capão da Canoa Futebol Clube na manhã deste sábado (1°) para comemorar seus 90 anos. Ícone político do Rio Grande do Sul e do Brasil, o ex-senador e ex-governador do Estado foi recepcionado por militantes, amigos e familiares em um evento organizado pelo MDB gaúcho para 800 convidados.
O salão, localizado no centro da cidade, foi preenchido por 15 fotografias que retratam os principais momentos dos mais de 60 anos da trajetória política de Simon. O político caminhou pela exposição, esbanjando simpatia e vitalidade ao ser abordado para fotos, selfies e entrega de presentes. A trilha sonora ao fundo ficou por conta de nove jovens da ONG Sol Maior, entidade de Porto Alegre que promove a inclusão social de crianças e adolescentes por meio da música. Simon fez questão de cumprimentar todos os jovens, um a um.
No final do evento, de pé, com o microfone na mão direita e uma bengala na mão esquerda, Simon começou seu discurso, revelando que esse seria um dos mais importantes pronunciamentos de toda sua vida pública.
— Eu achava que não merecia toda essa celebração — disse, provocando risos do público e gritos de “Merece, sim!”.
O político também recordou seu caminho na política e a luta pela democracia após o fim da Ditadura Militar.
— O povo brasileiro teve uma longa e difícil luta para estabelecer a democracia. A democracia que desapareceu em uma madrugada, com o povo à margem, passando depois por um longo período, de 21 anos, de força e violência. Foi uma longa resistência — lembrou Simon.
No meio da fala empolgada sobre as Direitas Já, movimento do qual participou ativamente no Rio Grande do Sul na década de 1980, Simon interrompeu o discurso para sentar em uma cadeira. E seguiu:
— Nosso Brasil não teve uma história de participação ativa do povo. A Independência foi feita por uma pessoa, o povo não apareceu. A República foi a mesma coisa. Já a democracia foi feita no Brasil pelo povo na rua. Participamos desse grande movimento e dessa grande caminhada.
Sobre o atual momento político do país, o emedebista defendeu que se tome um caminho de reconstrução.
— A continuação da nossa caminhada é importante, pois hoje vivemos em um regime de interrogação. Hoje é uma interrogação. O que se faz? Qual é o caminho? É Bolsonaro, não é Bolsonaro? Temos que parar para pensar. Nós temos que encontrar, ver, um caminho de reconstrução, de recomposição — explicou.
No término da fala, Simon se disse um homem de fé e recitou a oração de São Francisco de Assis que, para o político, é uma oração universal. E concluiu:
— Vamos lutar para que no Brasil todos tenham razão.
Depoimentos
Políticos e membros da família deram depoimentos sobre seu relacionamento com Simon em falas rápidas, de no máximo três minutos, que promoveram um reencontro com o passado e uma projeção do futuro da política no Brasil. Entre as manifestações, três foram de ex-governadores do Estado.
— Ele, por si só, já era o palco social e individual para os grandes debates no Rio Grande do Sul. Conheci o Simon em 1966, tinha 18 anos, no Auditório Araujo Vianna, quando falar de democracia, liberdade e justiça era muito difícil. Você faz falta ao Rio Grande e à vida política brasileira — disse o ex-governador José Ivo Sartori, lembrando do período da ditadura.
— Esperamos um Brasil melhor e que tu continue com esse olhar. Esse teu olhar lê a nossa alma, lê a nossa mente e nos dá sempre esperança de um mundo melhor — falou Tânia Terezinha, prefeita de Dois Irmãos.
— Esse é um agradecimento do que sempre tu representaste para nós, por um mundo mais livre, humano e democrático. Nesse momento tão sensível da política brasileira, se eu pudesse recomendar um homem público a outros homens públicos, eu certamente te recomendaria — manifestou o filho mais novo de Simon, Pedro Fülber Simon.
— Aqui não estão os mais de 10 milhões de gaúchos que com certeza gostariam de estar te cumprimentando, que tem orgulho do teu exemplo e do que tu representa para o Brasil hoje. Eu não tenho dúvida, quem não está aqui, está, de alguma forma, acompanhando e celebrando teus 90 anos de história — disse Germano Rigotto, ex-governador do Estado.
Só tenho a reconhecer e agradecer. Quem primeiro me deu a mão foi Pedro Simon. Quando eu digo que eu devo ao Pedro, é porque poucos sabem que, em tempos onde se falava pouco da ascensão da mulher na política, ele me ajudou. Muito da evolução que nós conquistamos na política foi por causa de pessoas como o Pedro – falou a também ex-governadora Yeda Crusius.
Homenagem a Ibsen Pinheiro
O evento também foi marcado por uma homenagem ao ex-deputado Ibsen Pinheiro, que morreu no último dia 24, aos 84 anos. Com uma foto do político em um telão, todos os presentes se levantaram e, por alguns segundos, somente se ouviu o som de palmas.