
Aprovado por unanimidade pela Comissão de Relações Exteriores do Senado para assumir o posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, o gaúcho Nestor Forster será o encarregado de trabalhar para ampliar a aproximação entre os dois países. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta segunda-feira (17), ele falou sobre as questões diplomáticas, comerciais e ambientais envolvendo as duas nações.
Aos 56 anos, Forster já teve passagens anteriores pela embaixada dos EUA e atuou nas representações da Costa Rica e do Canadá. Indicado após o presidente Jair Bolsonaro desistir do nome do filho Eduardo para o posto, episódio que para o diplomata está "completamente superado", o gaúcho ainda precisa passar pelo crivo do plenário do Senado para, então, ser oficializado no cargo.
Confira os principais pontos da entrevista:
Quais os desafios na embaixada do Brasil nos EUA?
Hoje, por várias circunstâncias, a embaixada nos EUA assume um relevo especial, sobretudo pela excelente relação entre Bolsonaro e Trump. No ano passado tivemos uma visita histórica (entre os dois presidentes), viramos uma página de certa frieza, de afastamento com os EUA. O desafio que temos é justamente de dar forma concreta a essa energia muito grande que existe entre os dois presidentes, entre a imensa área comum que existe com os EUA, de princípios e de valores. Nós somos as duas maiores democracias da América. Há razões profundas que nos unem, e conjunturais, que nos abrem oportunidades enormes.
O desafio que temos é justamente de dar forma concreta a essa energia muito grande que existe entre os dois presidentes.
Na área do comércio, há muitas coisas a curto prazo no que se refere à facilitação de negócios entre os dois países: eliminar burocracias, buscar regulação. A médio e longo prazo temos o objetivo ambicioso de buscar um acordo abrangente de comércio com os EUA, que envolve vários aspectos, com objetivo de abrir mercado para exportação do Brasil e atrair investimentos e tecnologia americanos para a indústria brasileira.
Há questões ambientais na relação com os EUA. Como o governo brasileiro vai se posicionar?
Com relação à questão ambiental, temos uma excelente relação com os EUA. Foi anunciado um fundo para financiamento de projetos, que espera juntar US$ 150 milhões para preservar a biodiversidade da Amazônia. Com relação à questão do clima, o Brasil é um modelo de sustentabilidade. O Brasil na verdade é uma potência ambiental, temos a maior diversidade do mundo, e vamos mantê-la. O governo Bolsonaro não mudou em nada a legislação ambiental. O Brasil tem uma das legislações mais estruturadas do mundo.
O problema talvez não seja a legislação, mas o discurso do governo. O ministro do Meio Ambiente já chegou a dizer que acabou a fiscalização.
Não sei a que discurso específico que você cita, mas os fatos: tivemos a "operação Verde Brasil" para combater os incêndios na Amazônia, algo que nunca havia sido feito na história do Brasil. Foi invocada pela primeira vez a lei de garantia da ordem ambiental. O compromisso está aí, talvez precise ajustar um discurso, mas os fatos não corroboram a narrativa de que o governo esteja retrocedendo. (...)
É uma das suas missões recuperar a imagem do Brasil na área ambiental?
A indicação do embaixador é uma decisão do presidente, e eu fiquei muito honrado.
Não fazemos propaganda, trabalhamos com fatos completos. Somos pagos para trazer os fatos e apagar a fumaça, ver o que está acontecendo de verdade.
A sua indicação era dada como certa até certo ponto, depois veio o filho do presidente (Eduardo Bolsonaro). Ficou algum resquício?
Episódio completamente superado. A indicação do embaixador é uma decisão do presidente, e eu fiquei muito honrado quando o presidente Bolsonaro anunciou que eu seria um bom nome.