Um coronel da reserva da Polícia Militar foi escolhido para mediar negociação entre os policiais militares paralisados no Ceará e uma comissão criada com membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. O coronel Walmir Medeiros já teve atuação semelhante em outro motim dos PMs cearenses, que aconteceu de dezembro de 2011 a janeiro de 2012.
A paralisação chega nesta quarta-feira (26) ao nono dia, com saldo de ao menos 195 assassinatos no estado e quatro quartéis fechados por PMs e familiares em Fortaleza, Caucaia, Juazeiro e em Sobral.
Foi em Sobral, a 270 km da capital cearense, que o senador licenciado Cid Gomes (PDT) foi baleado após investir contra amotinados com uma retroescavadeira, na semana passada. Cid já teve alta e se recupera em sua casa em Fortaleza.
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), pediu ao governo federal a prorrogação da presença das Forças Armadas no Estado. A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) assinada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vence na sexta (28).
O governo cearense não informou se solicitou um prazo específico nesse segundo pedido. A primeira solicitação cobria o período do Carnaval, considerado crítico pelas autoridades cearenses. São 2,6 mil homens das Forças Armadas atuando no Estado desde o dia 21 de fevereiro.
A comissão formada para mediar a negociação com os PMs não quis lidar diretamente com líderes da paralisação, por isso a escolha de um mediador que não participa do motim.
A opção por Medeiros foi feita após visita nesta quarta do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB-CE), Erinaldo Dantas, ao 18º Batalhão da PM, uma espécie de quartel-general dos amotinados. A OAB participa da negociação como observadora, junto com o Ministério Publico do Ceará.
— Não pretendemos acabar com a paralisação até acertarmos os termos de um acordo — disse à reportagem um dos líderes do movimento, o ex-deputado federal Cabo Sabino.
Sabino esteve todos esses dias junto com os policiais paralisados no 18º Batalhão, que desde a noite de 18 de fevereiro tem o acesso bloqueado por viaturas com os pneus esvaziados. O ex-deputado federal disse que são três as principais reivindicações que serão enviadas à comissão por meio de Medeiros: anistia para transgressões administrativas dos policiais que protestam, aumento de salário de soldado para R$ 4.932 (em uma parcela) e equiparação do auxílio-alimentação dos militares ao que é pago a outros servidores do governo.
— Queremos a anistia administrativa. Aqueles que cometeram crimes nesse período, que paguem pelos crimes. Sobre o aumento, nossa pauta é receber de uma vez, mas vai pela negociação — disse Sabino.
O governo avisou que não pretende dar anistia a nenhum dos policiais envolvidos na paralisação 230 já foram afastados por 120 dias e ficarão fora da folha salarial no período. Outros 43 foram presos, 37 por deserção por não terem aparecido para trabalhar em operação especial de Carnaval no interior.
O governador Camilo Santana também já disse que o reajuste oferecido é o limite que o Estado pode dar. No projeto de lei enviado dia 18 de fevereiro à Assembleia Legislativa, o salário de um soldado subiria de R$ 3.475 para R$ 4.500, parcelado em três vezes (pagamentos em março de 2020, março de 2021 e março de 2022).
A comissão criada para negociar foi uma solução encontrada para tentar colocar fim à paralisação, já que o governo afirmou que não trataria com os policiais manifestantes, que optaram na maioria por usar carapuças e ocupar batalhões.
Fazem parte da comissão criada o procurador-geral do Estado, Juvêncio Viana, o deputado estadual Evandro Leitão (PDT), o corregedor-geral, desembargador Teodoro Silva Santos, e o procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro.
Número de homicídios caiu com presença do Exército
Os números de homicídios no Ceará caiu 35% desde que a operação do Exército no Estado começou, dia 21. A média diária, porém, continua alta.
Segundo dados disponibilizados pelo Exército, que participa da segurança no Ceará por meio da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), na terça (25) foram 25 assassinatos, número ainda alto comparado com a média de nove homicídios que o Estado tinha antes do motim de parte dos policiais militares.
As mortes violentas somam portanto 195 desde a madrugada de 19 de fevereiro
a paralisação começou na tarde anterior, com a ocupação do 18º Batalhão da PM no bairro de Antônio Bezerra, em Fortaleza. De 1º a 18 de fevereiro foram 164 homicídios e, em todo o mês de janeiro, foram 261.