Personagem central no processo do sítio de Atibaia, o empresário Fernando Bittar é tratado como um filho pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fernando frequentava a casa de Lula e da ex-primeira-dama Marisa Letícia desde a infância, tornando-se parceiro de brincadeiras do primogênito do casal, Fábio Lula da Silva, o Lulinha. A amizade se transformou em sociedade na Gamecorp. Nesta terça-feira os sócios foram alvos da 69ª fase da Lava-Jato, deflagrada pela 13ª Vara Federal de Curitiba.
A proximidade de Fernando com a família do ex-presidente é fruto da amizade de seu pai, Jacó Bittar, com Lula. Presidente do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia e Campinas, Jacó conheceu Lula durante a militância operária dos anos 1970. Juntos, fundaram o PT e se tornaram amigos inseparáveis.
Lulinha chegou a morar um período com Jacó em Sousas, distrito de Campinas. "Tenho os filhos de Lula como se fossem meus próprios filhos e sei que ele tem o mesmo sentimento em relação com meus filhos", escreveu o petroleiro em um depoimento por escrito anexado ao processo do sítio de Atibaia.
Em 2004, logo no segundo ano de mandato de Lula, Lulinha fundou a Gamecorp ao lado dos irmãos Fernando, Ricardo e Kalil Bittar. Ao grupo se uniu Jonas Suassuna, empresário com negócios em várias áreas, da publicidade ao setor imobiliário. No ano seguinte à fundação da Gamecorp, a empresa recebeu aporte de R$ 5,2 milhões da Telemar, gigante da telefonia.
Mais tarde, a telefônica investiria mais R$ 10 milhões na empresa. Os vínculos de uma empresa que precisa de concessão do governo com negócios do filho do presidente da República causaram controvérsia à época e o Ministério Público chegou a investigar o caso, sem avanços consistentes na apuração. Agora, o Ministério Público Federal suspeita que pagamentos na ordem de R$ 132 milhões da Oi/Telemar para a Gamecorp, efetuados entre 2004 e 2016, teriam sido usados na compra do sítio de Atibaia.
A versão da família para o negócio é diferente. Ao final do segundo mandato de Lula, em 2010, já debilitado pelo Mal de Parkinson, Jacó Bittar chegou a morar no Palácio da Alvorada e na Granja do Torto com Lula e Marisa Letícia. Com o fim do governo, ele diz que emprestou R$ 500 mil a Fernando e pediu ao filho que comprasse o sítio para servir de local de descanso para ele e para a família do petista. Parte do imóvel foi adquirida por Fernando e outra fração, maior, por Suassuna.
Nos registros da presença de Lula no sítio, há várias fotos do ex-presidente com Fernando e o filho dele, Guilherme. O menino também aparece em várias fotografias ao lado de Lula e Marisa em cerimônias e eventos oficiais na época da Presidência. No recente julgamento da apelação do sítio de Atibaia no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Fernando teve mantida a condenação por lavagem de dinheiro. Sua pena foi aumentada de três para seis anos de reclusão, em regime inicial semiaberto.