Filho 02 do presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) provocou uma imensa repercussão nas redes sociais ao afirmar que o país não terá transformação rápida por vias democráticas. O tuíte de Carlos gerou uma enxurrada de críticas de pessoas que viram na postagem um risco ao regime democrático brasileiro.
"Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!", escreveu o vereador, na noite de segunda-feira (9).
Carlos também disse que o governo de seu pai está "desfazendo absurdos" e que tenta recolocar o país "nos eixos". "O enredo contado por grupelhos e os motivos cada vez mais claro$ lamentavelmente são rapidamente absorvidos por inocentes. Os avanços ignorados e os malfeitores esquecidos", completou o filho do presidente.
Assim que as críticas à declaração começaram a inundar as redes sociais, Carlos publicou: "Agora virei ditador? Pqp! Boa noite a todos!".
O ex-deputado federal Jean Wyllys (PSOL) reagiu chamando o vereador de "maldito" e o comparou a um câncer. "Você, seu pai, seus irmãos, seus ministros e suas milícias representam para a democracia brasileira aquilo que células cancerígenas representam para um corpo antes sadio", disse.
A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) questionou o que Carlos estaria sugerindo: "A tirania?". Depois, escreveu que "a democracia é o único caminho a se seguir para termos uma sociedade justa, livre e inclusiva".
Em seu perfil oficial, o PSDB também se manifestou. O partido lembrou que "por vias democráticas, o Brasil elegeu Bolsonaro e tirou o PT" e que "a democracia é a única opção possível".
Guilherme Boulos (PSOL), que concorreu à Presidência em 2018, afirmou que Carlos "expressa o chorume mais autoritário e doentio" e sugeriu que ele "pode estar vocalizando um desejo de quem governa o país". Já o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) ironizou, chamando Carlos de "presidente".
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que percebeu "uma tremenda ânsia autoriária", e o colega Paulo Pimenta (PT-RS) lembrou que, há 20 anos, Bolsonaro defendeu o fechamento do Congresso e o assassinato do presidente da República.
Já o influenciador bolsonarista Leandro Ruschel afirmou que Carlos "está certo". "Nessa fraude chamada 'democracia' brasileira, nada mudará", postou. O youtuber Felipe Neto, que distribuiu 14 mil livros com a temática LGBT em protesto contra a tentativa da prefeitura do Rio de censurar uma revista em quadrinhos que mostra um beijo gay, disse que "a democracia está em risco" e chamou quem está "calado" de "conivente".
Replicando a publicação de Felipe Neto, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) chamou Carlos de "projetinho de Hitler tropical", afirmando que a democracia é intocável.
O deputado estadual gaúcho Fábio Ostermann (Novo) denunciou que, em nove meses de governo, instituições estão sendo aparelhadas para livrar "a cara dum filho corrupto", um dos filhos do presidente está "ganhando uma embaixada" e "agora o eterno boca-aberta que sempre fala abertamente o que outros provavelmente pensam". A economista Elena Landau, que trabalhou no governo Fernando Henrique Cardoso e hoje integra o movimento Livres, que defende o liberalismo econômico e de costumes, escreveu que, para Carlos, "o Estado é sua família".
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou nesta terça-feira que declarações como a de Carlos merecem desprezo .
— O Senado Federal, o Parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a este enfraquecimento tem, da minha parte, o meu desprezo — reagiu Alcolumbre.
— Confio na democracia, acredito nas instituições e, por isso, cumpro meu papel tentando dar estabilidade a um país de 200 milhões de brasileiros que aguardam nossas respostas para emprego, para mais saúde e mais educação — acrescentou o senador.
Já o vice-presidente Hamilton Mourão, em contraponto a Carlos, defendeu a importância do regime democrático. O general da reserva salientou que, se não fosse o regime democrático, o presidente Jair Bolsonaro não teria chegado ao comando do Poder Executivo e afirmou que o atual sistema político representa um dos "pilares da civilização ocidental".
— (A democracia é) fundamental, são pilares da civilização ocidental. Vou repetir para você: pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso, a civilização ocidental não existe — disse.
Apesar disso, ao ser questionado especificamente sobre a fala do vereador, Mourão preferiu não emitir juízo de valor.
— Carlos Bolsonaro vocês perguntam para ele — disse o general. — Isso é problema dele, pergunte a ele — completou.