
Ao cortejar o autoritarismo em um tuíte, o filho 02 de Jair Bolsonaro, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), surpreendeu até mesmo o núcleo bolsonarista. Políticos aliados preferiram não se manifestar, em redes sociais, sobre a insurgência de Carlos. Provocados, deram sinais de que a fala pegou mal.
O principal contraponto veio do Palácio do Jaburu. Presidente em exercício durante a licença médica de Bolsonaro, Hamilton Mourão afirmou que a democracia é um "pilar da sociedade" e lembrou que, por meio dela, o presidente foi eleito.
– Vou repetir para você: pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso, a civilização ocidental não existe – disse.
Mourão ainda afirmou ser "lógico" que mudanças podem ser feitas, "senão a gente não tinha sido eleito". Aliado do presidente, o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) afirmou a GaúchaZH "lamentar" a declaração.
– Por vias democráticas, estamos acertando as coisas. Não se imaginava votar a reforma da Previdência, e já estamos fechando a matéria no Senado por vias democráticas. Lamento que ele tenha colocado dessa forma, mas o nosso regime é esse aí e não vai mudar – pontuou Heinze.
O senador ainda admitiu que intervenções como a de Carlos atrapalham o "andamento" do governo:
– Se eles falam, os filhos falam de uma maneira geral, atrapalham. Lamento que isso aconteça, mas o que vou fazer? Calar a boca?
Já o deputado federal Nereu Crispin (PSL-RS) relativizou. Em entrevista, disse "não ser contra, nem a favor".
– Cada um tem a sua opinião. Não estou aqui para condenar o filho do presidente. A gente tem hoje, no país, um sistema democrático. Bolsonaro foi eleito democraticamente, e cada um tem a sua posição. Não vou condenar ele por isso, sou produto da democracia – afirmou Crispin.
Pelo Twitter, na noite de segunda-feira (10), Carlos escreveu que "por vias democráticas, a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos". Nesta terça-feira (10), o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, não comentou a declaração.
– O que é tuitado nas redes sociais pessoais é de responsabilidade de quem o fez – limitou-se a dizer.
Alcolumbre fala em "desprezo", Doria critica tuíte
Pelo país, políticos rebateram a frase de Carlos Bolsonaro. Alvo de recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), criticou o filho do presidente:
– Sem entrar na polêmica, penso o oposto. Só com a democracia é que nós podemos ter um país soberano, livre e capaz de produzir políticas sociais e políticas econômicas. É só com a democracia, não há nenhum outro caminho possível para o país. E estarei ao lado dos democratas.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), fez coro às reações ao declaram que a manifestação de Carlos merece "desprezo". Para ele, a democracia brasileira está fortalecida.
– O Senado, o parlamento brasileiro, a democracia estão fortalecidos. As instituições todas estão pujantes, trabalhamos a favor do Brasil. Então, uma manifestação ou outra em relação a esse enfraquecimento tem, da minha parte, desprezo – reagiu Alcolumbre.
Candidato à Presidência em 2018, Ciro Gomes (PDT) cobrou uma manifestação de Bolsonaro sobre a postagem. Ciro ainda chamou Carlos de "percevejo" que "só pode merecer alguma reflexão na proporção em que isso representar um pensar do Bolsonaro".
– É preciso que todos cobremos de Bolsonaro uma declaração explícita, clara, se esse menino está falando mais uma bobagem, mal-amado que é, percevejo da vida brasileira – afirmou Ciro depois de participar de um debate em São Paulo.