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Brasília vive dias de tensão prévia à indicação do novo novo chefe de Ministério Público Federal. Até sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro deverá oficializar o nome do futuro titular da Procuradoria-geral da República (PGR), em substituição a Raquel Dodge. Há pelo menos nove candidatos disputando a vaga, embora o próprio Bolsonaro afirme que há "uns 80" cotados.
Raquel Dodge preferiu não disputar a eleição e tentou e cacifar junto ao governo, mas Bolsonaro já descartou indicá-la a um segundo mandato. Por tradição, os últimos presidentes da República acataram a lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Bolsonaro, contudo, frisou que não pretende limitar sua escolha à eleição interna da categoria e revela preferência por um procurador alinhado com suas ideias, sobretudo com relação aos direitos humanos e no trato de minorias.
— Quero um PGR que não apenas combata a corrupção, que entenda a situação do homem do campo, não fique com essa ojeriza ambiental, que não atrapalhe as obras que estão fazendo dificultando licenças ambientais, que preserve a família brasileira, que entenda que as leis têm que ser feitas para a maioria e não para as minorias. É isso que queremos — definiu o presidente durante visita a Pelotas, segunda-feira (12).
Nos últimos dias, ele recebeu alguns pretendentes ao cargo. Entre simpatizantes do governo, houve uma pressão para que a escolha recaia sobre o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, mas contra ele pesam a polêmica das conversas vazadas pelo site The Intercept Brasil e o fato de ser procurador de 1ª instância.
Veja a lista dos mais cotados:
Mário Bonsaglia
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Vencedor da eleição interna para a PGR com 478 votos, tem 28 anos de Ministério Público Federal. Subprocurador-geral, é discreto, afeito às questões técnicas dos processos e considerado independente. Atualmente faz parte da 6ª Câmara, atuando com populações indígenas e comunidades tradicionais, o que pode ameaçar sua eventual indicação.
Luiza Frischeisen
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Única mulher a disputar a eleição, ficou em segundo lugar, com 423 votos. Subprocuradora desde 2015, está lotada na 2ª Câmara de Coordenação e Revisão Criminal. Preferida entre a força-tarefa da Lava-Jato, tem vínculos com o grupo do ex-procurador-geral Rodrigo Janot e atua em causas progressistas.
Blal Dalloul
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Único integrante da lista tríplice que não ocupa o topo da carreira, o procurador regional ficou em terceiro lugar na escolha dos colegas, com um voto a menos que Luiz Frischeisen. Atuou como secretário-geral do Ministério Público da União na gestão de Rodrigo Janot. Atua na Procuradoria Regional da 2ª Região. cobrindo Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Augusto Aras
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Concorrendo por fora da lista tríplice, se tornou um dos favoritos após ser recebido pelo menos seis vezes por Bolsonaro. Com 32 anos de carreira, o subprocurador tem perfil conservador e conta com a simpatia dos filhos do presidente e de auxiliares próximos. Ele já avisou a Bolsonaro que pretende montar uma equipe afinada à agenda do Planalto.
Paulo Gonet
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Outro subprocurador a almejar o cargo à revelia da lista tríplice, tem o apoio de uma ala conservadora da categoria e de uma ala do PSL. Ex-integrante da equipe de Raquel Dodge, é católico fervoroso, adepto da ordem Opus Dei. Já foi recebido por Bolsonaro no Planalto, mas sofre resistências do núcleo palaciano por ter sido sócio do ministro Gilmar Mendes.
Jaime Miranda
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Procurador-geral de Justiça Militar com 20 anos de carreira, está no segundo mandato à frente do principal posto do Ministério Público Militar. Crítico da lista tríplice, tem feito lobby junto aos generais que assessoram Bolsonaro e no Senado. Também defende que a nomeação do PGR não seja restrita aos procuradores da República, envolvendo os demais quadros do MPF.
Lauro Cardoso
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Secretário-geral da PGR nas gestões de Roberto Gurgel e Rodrigo Janot, foi o quarto colocado na eleição da categoria, ficando de fora da lista tríplice. É bem visto no Planalto por ter trajetória semelhante a de Bolsonaro: paraquedista com formação militar na Academia das Agulhas Negras. Tem forte atuação na área criminal, mas a desvantagem de ser não ser subprocurador.
Sobre a sucessão
Votação - A ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) faz a cada dois anos uma eleição para definir quem os membros da categoria mais querem no cargo de procurador-geral da República.
Candidatos - Tradicionalmente pode se candidatar qualquer procurador do Ministério Público Federal. Cada eleitor pode votar em mais de um nome.
Lista - Os três candidatos mais votados compõem uma lista tríplice que é enviada ao presidente da República. Por lei, o presidente não precisa aderir à lista, mas essa tem sido a tradição desde 2003.
Sabatina - O escolhido precisa ser aprovado em sabatina do Senado. O mandato é de dois anos.
O que faz o procurador-geral da República - É o chefe do Ministério Público da União (que inclui Ministério Público Federal, Ministério Público Militar, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios). Representa o MPF junto ao STF e ao STJ e tem atribuições administrativas ligadas às outras esferas do MPU.