Caiu à metade o número de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) requisitadas por autoridades federais nos primeiros cinco meses do ano. De janeiro a maio, a FAB fez 513 voos transportando ministros de Estado, os presidentes de poderes e a cúpula das Forças Armadas. No mesmo período de 2018, durante o governo Michel Temer, foram registrados 1.042 voos.
A quantidade reduzida de deslocamentos nesse início de gestão é a menor desde que a Aeronáutica passou a divulgar os voos, em julho de 2013. Em 2014, por exemplo, no governo Dilma Rousseff, foram registrados 1.499 viagens, volume quase três vezes superior ao de agora (veja quadro abaixo). O resultado tem relação com o enxugamento da Esplanada. Enquanto Dilma chegou a ter 32 ministros e Temer, 29, Jair Bolsonaro nomeou uma equipe de 22 integrantes.
No início do ano, Bolsonaro chegou a comentar a redução ao postar no Twitter uma foto tirada por um piloto de uma companhia aérea privada. "Comandante da Latam que pilota para Brasília desde 2005 tirou esta foto hoje e disse que nunca tinha visto isso! Tantos da frota do Grupo de Transporte Executivo da FAB (GTE), que transporta os ministros e outras autoridades do governo, no chão em pleno sábado", escreveu o presidente em 12 de janeiro.
A marca atende a uma recomendação feita pelo presidente Jair Bolsonaro aos seus auxiliares ainda durante a formulação das primeiras medidas de governo. Em dezembro do ano passado, antes da posse, o coordenador da transição, Onyx Lorenzoni, disse que o objetivo era evitar "regalias".
— É um pacto que estamos fazendo para reduzir drasticamente o uso das aeronaves da FAB — afirmou à época.
Maia leva primeiro lugar em ranking
Entre os 513 voos de 2019, 134 foram solicitados por autoridades de fora do Executivo. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi quem mais usou o serviço. Maia fez 93 viagens, sendo 21 delas para o Rio de Janeiro, onde mora. Em pelo menos 12 ocasiões, foram voos no mesmo dia, um bate e volta Brasília-Rio-Brasília, sempre sem qualquer agenda oficial na capital fluminense.
No Executivo, ninguém voou mais do que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele fez 50 deslocamentos, mas boa parte de suas viagens são internacionais e a FAB classifica como um voo específico cada escala percorrida. Dessa maneira, uma ida e volta a Paris como a realizada em 21 de maio acaba gerando sete registros nas planilhas da FAB em função das paradas em Fortaleza, nas Ilhas Canárias e em Cabo Verde durante o trajeto.
Logo atrás de Araújo, o segundo ministro com mais viagens em jatinho da Aeronáutica é Osmar Terra, titular da pasta da Cidadania. Foram 44 deslocamentos, todos em território nacional. O curioso é que dois dos mais ativos e importantes integrantes do primeiro escalão, os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Economia, Paulo Guedes, quase não solicitam os serviços aéreos da FAB. Onyx viajou apenas quatro vezes, três delas tendo o Rio Grande do Sul, sua base eleitoral, como destino ou origem. Já Guedes fez nove voos, quatro delas chegando ao Rio de Janeiro, onde mora há 20 anos.
Os gastos com os voos não são divulgados. Segundo a FAB, os dados são classificados no grau de sigilo como "reservado" por envolverem aeronaves militares. Os aviões podem ser requisitados por motivo de segurança, emergência médica e viagem a serviço.