Escolhido para comandar a superintendência da Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro, o delegado Ricardo Andrade Saadi, 42 anos, também será o responsável por uma estratégia que está sendo gestada para articular forças de segurança em uma nova ofensiva ao crime organizado. Chamada de Operação União Rio, o trabalho está sendo articulado desde a semana passada, quando Saadi foi convocado para ir à Brasília e recebeu o convite para se transferir do Rio Grande do Sul, onde é titular da PF desde junho, para a capital fluminense.
A Operação União Rio vai reunir em um mesmo ambiente físico PF, Polícia Rodoviária Federal, Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Forças Armadas, Polícia Militar e Polícia Civil, todos sob coordenação da PF. A articulação de esforços será um trabalho semelhante ao que ocorreu durante as Olimpíadas e a Copa.
—O trabalho articulado que tivemos nos grandes eventos foi um aprendizado enorme. O crime organizado está cada vez mais organizado. Se o Estado trabalhar de forma desarticulada, nunca teremos chance contra o crime. Temos que nos integrar e colaborar. O que se procura no Rio nesse momento é isso — afirma Saad.
Um delegado federal de São Paulo já foi designado para coordenar a operação e responderá diretamente a Saadi. O escritório do grupo deverá ser instalado em um prédio da PF no Rio.
— A ideia é de trabalho conjunto, todos de forma colaborativa, sem protagonismo, para juntos trabalharmos essa questão da segurança, pois quem está sofrendo é a população do Rio —destaca o delegado, que se muda nos próximos dias.
Apesar de sua indicação para a superintendência fluminense ter sido relacionada inicialmente pela imprensa ao comando das investigações da Lava-Jato, pela experiência em crimes financeiros, o que colocou Saadi na mira da direção-geral da PF foi o perfil de articulador. Delegado desde 2002, ele chefiou por seis anos e meio o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça. No cargo, além de sucesso em acordos internacionais para recuperar dinheiro desviado por corruptos, criou uma rede internacional de contatos.
— A atuação da PF está mais voltada para o combate ao tráfico de armas, tráfico de drogas e roubo de cargas. No caso do Rio, temos de intensificar o relacionamento e a troca de informações com outros países sobre armas e drogas — diz o delegado federal.
Sobre se a PF será vista nas ruas, Saadi explica que a função dela não é ostensiva, mas que poderá integrar operações:
— Não fazemos trabalho ostensivo. A PF atuará na inteligência e na investigação. Quando forem deflagradas operações, eventualmente a PF poderá trabalhar junto.
Um dos principais parceiros de Saadi na Operação União Rio deverá ser o general Walter Souza Braga Neto, do Comando Militar do Leste, que ficará à frente das forças de segurança do Rio de Janeiro (polícias civil e militar) enquanto durar a intervenção federal no Estado. Como a intervenção se dá em relação às instituições estaduais, a PF não estará subordinada ao interventor.
Em relação à Lava-Jato, que tem importante eixo no Rio, o novo superintendente diz que sua função é propiciar condições de trabalho:
— Meu papel será o de dar condições de trabalho ao pessoal. Claro que com minha experiência no combate à lavagem de dinheiro e desvio de recursos públicos, posso colaborar. Mas o papel é de articulação e dar condições de trabalho.