
Recém eleito para a presidência do PSDB no Estado, Eduardo Leite quer o partido fora da base do governo Michel Temer e considera irresponsável a ação do senador Aécio Neves (MG) de destituir Tasso Jereissati (CE) do comando nacional da sigla. Pré-candidato ao Piratini, o ex-prefeito de Pelotas também defende para breve uma discussão interna sobre a saída do PSDB da base do governo Sartori.
A eleição à presidência do PSDB consolida sua candidatura ao governo do Estado?
É um consenso importante. O partido deseja isso. Não me lancei pré-candidato, mas tenho sido buscado pelas lideranças partidárias e pela base. Mas antes da candidatura, vou me dedicar a construir um projeto para 2018, algo mais audacioso e que hoje não temos. O governo do Estado se encurralou na pauta fiscal e deixou de tocar em outras, como educação, investimento privado e infraestrutura. É sobre isso que quero falar.
A sua ascensão e o debate em torno da pré-candidatura já fomenta a discussão sobre uma saída da base do governo Sartori?
Sim. É algo que tem de ser debatido, embora não nos leve para a oposição. O governo Sartori tem diretrizes corretas. Não temos divergências profundas, mas diferenças de estilo. Queremos mais do que ele está oferecendo para o Estado. Farei um esforço para reunir o diretório estadual antes da convenção nacional, dia 9 de dezembro. Será a oportunidade para tomarmos posição para a convenção nacional e também definirmos a postura com relação ao governo do Estado.
Mas será uma reunião para discutir o assunto ou já formalizar uma saída do governo?
É possível ter a discussão e já tomarmos uma decisão, dar forma ao ato.
O PSDB sempre foi dividido aqui no Estado entre os grupos do prefeito Nelson Marchezan e da ex-governadora Yeda Crusius. Como o senhor pretende unir essas alas que são praticamente inconciliáveis?
Mas se conciliaram. Tivemos uma eleição de consenso. Os dois estavam lá e se dirigiram um ao outro com elogios e boas referências. Não deixam de ter suas divergências, mas foi possível ter uma conciliação. Isso não significa que as pessoas pensem da mesma forma, mas que se estabeleceu um mínimo de relação respeitosa que permite trabalhar juntos pelo partido e pelo projeto que pretendemos representar.
E no plano nacional, que mensagem o senhor pretende levar à convenção?
Temos um debate interno muito grande, em especial em relação ao governo federal. É o ponto mais sensível. Temos a situação pessoal do senador Aécio Neves, pela qual ele deve responder. O PSDB tem postura diferente. Ao contrário de nós, o PT está unido em torno da coisa errada, todos defendendo a candidatura de um ex-presidente condenado pela Justiça. Nós estamos divergindo porque o partido tem alas que não toleram e não vão se unir em torno de algo errado somente porque é do partido ou porque quer ganhar a eleição.
Mas o PSDB se uniu para salvar o mandato de Aécio Neves.
Ali era uma questão técnica, não quer dizer que ele está salvo. Foi mantido no mandato, mas a investigação continua. Há um projeto judicial correndo contra ele e, se for condenado, irá pagar. Ninguém no PSDB diz que isso é golpe ou perseguição.
Qual sua opinião sobre a permanência do PSDB no governo Temer?
Espero que seja consagrada a saída do governo. O apoio do PSDB não pode ser à manutenção de alguém no poder, mas sim a uma agenda. E a agenda de reformas que apoiamos está comprometida na medida em que o governo é extremamente fragilizado por denúncias graves de corrupção.
É horrível para a sociedade ver um presidente com todas essas denúncias não responder por isso imediatamente
EDUARDO LEITE
Presidente do PSDB-RS
O senhor acha que o PSDB deveria ter votado pelo afastamento do presidente?
Sim. As denúncias são muito graves, a alta cúpula do governo envolvida. Não há como ignorar. Para o país seria melhor a aceitação da denúncia, até do ponto de vista pedagógico. Há um custo elevado na manutenção de Temer, com liberação de emendas, pagamentos, ou seja, vamos pagar um preço alto de desajuste das contas para manter o presidente Temer no poder. O PSDB não podia compactuar com isso.
Qual sua opinião sobre a ação do senador Aécio Neves de destituir Tasso Jereissati da presidência do PSDB?
Foi irresponsável. O argumento que ele utilizou , de garantir isonomia, não corresponde à realidade. É incoerente com a postura dele. Mas espero que isso seja resolvido na convenção nacional.
Aécio tinha legitimidade para tal decisão?
Por isso Tasso exigia que Aécio se afastasse definitivamente da presidência do partido. O afastamento temporário dava a ele legitimidade institucional para tomar a medida que tomou. Do ponto de vista moral, é muito ruim e causa transtorno. Espero que a base do partido manifeste claramente que essa conduta não é tolerável.
Como unificar o partido?
Há espaço para conciliação. O governador Marconi Perillo (GO) nos visitou no final de semana e demonstra afinidade de posições em torno da saída do governo Temer. Há um mês inteiro para definição, mas se não houver composição vamos para a disputa.
Em quem o senhor votará para a presidência nacional do PSDB?
Como presidente no Estado, tenho responsabilidade de discutir isso internamente antes de assumir a defesa de uma candidatura. Mas posso assegurar que, seja qual for, é intransigente que tenha firme disposição de deixar o governo Temer e, principalmente, tenha como plataforma a revisão interna da autocrítica que foi sugerida pelo senador Tasso.