Artistas, juízes, procuradores, servidores do Judiciário e militantes do Movimento Vem Pra Rua protestaram, na quinta-feira (24), pela suspeição do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, após decisões do magistrado em casos relacionadas à Lava-Jato no Rio. Na última segunda-feira (21), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o impedimento do ministro.
A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) e a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) pedem que a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, se manifeste em relação a atos recentes de Gilmar Mendes. Segundo o jornal O Globo, a Ajufe cobra que Cármen Lúcia defenda o juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava-Jato no Rio, que foi alvo de críticas do ministro do Supremo. Já a ANPR espera que o pedido de suspeição de Gilmar Mendes seja votado em plenário pelo STF.
Leia mais
Janot pede impedimento de Gilmar Mendes
Gilmar derruba decisão de juiz e manda soltar Jacob Barata Filho de novo
"Juiz não pode ser covarde", afirma Gilmar Mendes
O protesto realizado no Rio com a presença dos artistas Caetano Veloso, Tiago Lacerda, Paula Lavigne, Cristiane Torlone, Marcelo Serrado, Paula Burlamarqui, Lucinha Lins e Jorge Vercilo ocorreu após Gilmar Mendes mandar soltar duas vezes o empresário Jacob Barata Filho. Ele é um dos donos de empresas de ônibus no Rio de Janeiro que são investigados pelo suposto pagamento de propina a políticos, incluindo o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB).
Os artistas estenderam uma faixa com a frase "Bretas, o Rio está com você". O juiz federal, que participou do protesto, não discursou e não falou com a imprensa.
– Os artistas são uma parte visível da sociedade. É bom que se saiba que a sociedade está se movimentando, que haja respeito pela ação que essas pessoas estão desenvolvendo no Brasil. Há projetos na Câmara que são retrógrados. Eu estou aqui apoiando o Marcelo Bretas, honrosamente, em nome de minha classe. Eu, instintivamente, me identifico com a posição do Bretas. Há uma ameaça à Lava-Jato, ao desfazimento da organização corrupta que insiste em se manter no Brasil. O fato é que a gente sente necessidade de reagir – disse Caetano.
O pedido de suspeição apresentado por Janot argumenta a existência de "vínculos pessoais" que "impedem o magistrado de exercer com a mínima isenção suas funções no processo" – Gilmar Mendes foi padrinho de casamento de Beatriz Barata, filha de Jacob Barata, em 2013.
A manifestação também prestou apoio a Bretas, ironizado por Gilmar Mendes – o ministro do Supremo disse que, "em geral, o rabo não abana o cachorro, é o cachorro que abana o rabo".
O juiz de primeira instância prendeu Barata Filho pela segunda vez, após concessão de liberdade pelo ministro do STF. Na quinta-feira (17), Gilmar Mendes mandou soltar o empresário mais uma vez, motivando o pedido de suspeição de Janot.
– Nós estamos vendo que há uma orquestração contra a Lava-Jato. Não é só este tipo de agressão feita ao juiz federal Marcelo Bretas, mas uma série de outras medidas que estão sendo tomadas, que visam a intimidar e enfraquecer o Judiciário. Essa atitude de Gilmar Mendes não é nova. Ele insiste em atacar os magistrados que estão responsáveis pela Operação Lava-Jato. Assim foi feito em relação ao juiz Sergio Moro e agora está sendo feito em relação ao Marcelo Bretas. Não é possível que um ministro da Suprema Corte venha à imprensa agredir verbalmente o trabalho de um magistrado – afirmou o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso.