Michel Temer abre a semana mais delicada de seus 13 meses de governo convicto de que será denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O Palácio do Planalto avalia que até terça-feira será finalizada a primeira acusação contra o presidente e, por isso, reforça as ações para segurar aliados na Câmara, acalmar o mercado financeiro e evitar que os movimentos que foram contrários a Dilma Rousseff voltem às ruas.
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Na noite de domingo, preocupado com os impactos da perícia na gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista, da JBS, e a estratégia de Janot de "fatiar" as denúncias, Temer reuniu por duas horas advogados, ministros e líderes partidários da Câmara para traçar a estratégia dos próximos dias. O discurso de defesa está pronto:
– Espero que a PGR (Procuradoria-Geral da República) reflita sobre a necessidade de evidências concretas para que se apresente uma denúncia que atrasará a economia – diz o deputado Carlos Marun (PMDB-MS).
A Polícia Federal (PF) já concluiu em relatório parcial que Temer aceitou vantagem indevida da JBS, por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Agora, Janot avalia apresentar de duas a três denúncias em momentos separados – o presidente é investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.
A primeira acusação deve chegar logo ao ministro Edson Fachin, que a remeterá à Câmara. Antes do plenário, a peça passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O governo procura um relator aliado. O primeiro cotado, Alceu Moreira (PMDB-RS), declinou. O nome do momento é o do também gaúcho Jones Martins (PMDB).
– Houve sondagem, mas nem sequer existe a denúncia e o convite para a função. Teria de conhecer o conteúdo para opinar – diz Martins.
No plenário, Temer precisará do apoio de 172 dos 513 deputados em votação aberta. O Planalto já pressiona com distribuição e corte de cargos e emendas, e articula formas de esvaziar a futura sessão – ausências favorecem o governo.
– Se a Câmara arquiva a primeira denúncia e a repercussão é negativa, alguns podem mudar o voto – admite um dos integrantes do bunker palaciano.
Os tucanos preocupam. Em palestra na sexta-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso classificou como "gravíssimo" o momento, com a inédita situação de um presidente denunciado pela PGR. E fez uma sugestão a Temer:
– Ele podia chamar as forças políticas e antecipar a eleição para daqui a oito, nove meses. Isso para ter legitimidade.
Nesse contexto, o Planalto viu o cenário ficar mais delicado com a perícia da conversa de Temer com Joesley. A defesa do presidente acusa o dono da JBS de adulterar o áudio, porém, o laudo da PF indica que não houve edição. O documento será entregue hoje ao STF.
– A base terá de defender o indefensável, ficar alinhada a um governo corrompido e sem aprovação. Os deputados não ficarão com Temer – projeta Henrique Fontana (PT-RS).
Nos partidos da coalizão do governo, parlamentares admitem que os argumentos de Temer perdem força a partir da confirmação de que não houve edição no áudio. Por ora, jogam a favor do presidente a falta de consenso para escolha de um sucessor, a proximidade da aprovação da reforma trabalhista e as manifestações de ruas concentradas na oposição.
– Se apenas sindicatos e o PT forem à rua, a pressão não repercute no Congresso – avalia um conselheiro de Temer.
Denúncias de Janot
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar a primeira denúncia contra Temer por corrupção passiva. O presidente trabalha, com cargos e emendas, para evitar a debandada de aliados e assegurar os votos ou ausências de 172 deputados, soma necessária para arquivar o caso no plenário da Câmara – a votação seria em julho. Como Janot pode denunciar Temer mais de uma vez, o Planalto teme que o desgaste se amplie, implodindo a base.
Aliança tucana
Apesar de aliados sugerirem a demissão dos quatro ministros do PSDB, liberando espaço para consolidar aliança mais enxuta e fiel com os partidos do antigo centrão, Temer mantém a aposta no apoio tucano. O arquivamento do pedido de cassação de Aécio Neves (PSDB-MG) no Conselho de Ética do Senado, feito pelo peemedebista João Alberto Souza (MA), serve para segurar os votos do PSDB na Câmara.
Cunha, Funaro e Rocha Loures
Diante da derrota no STF, que formou maioria para manter a homologação da delação da JBS, o Planalto se volta para barrar e minimizar vazamentos de informações sobre a colaboração que o operador Lúcio Funaro negocia. Outra frente de preocupação é o eventual acordo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A defesa de Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), o homem da mala, tenta levar o ex-deputado à prisão domiciliar. Um revés ampliaria a pressão por delação.
Reformas
O Planalto programa aprovar na quarta-feira a reforma trabalhista na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e levar o projeto ao plenário no mesmo dia. O relator Romero Jucá (PMDB-RR) tenta enquadrar os rebeldes. Se aprovar as mudanças na legislação trabalhista, o governo acredita que manterá o apoio do empresariado. Na Câmara, permanecerá o discurso favorável a pautar a reforma da Previdência em julho.
CPI da JBS
Desde o final de maio, a CPI mista da JBS aguarda que os líderes indiquem os integrantes da comissão. A investigação pretende apurar fraudes e irregularidades nos empréstimos do BNDES à JBS. A base de Temer quer usar a comissão para vincular a empresa aos governos petistas e questionar os benefícios da delação dos irmãos Batista e, assim, desgastar Janot e o ministro do STF Edson Fachin. O Planalto não tem pressa para acelerar a CPI.
Reajuste do Bolsa Família
Temer prepara para esta segunda-feira o anúncio do reajuste do Bolsa Família, em uma tentativa de promover uma agenda positiva antes da denúncia da PGR. A alta média do benefício fica em 5,5%, acima da inflação dos últimos 12 meses. O Planalto discute com a equipe econômica medidas de apelo junto à classe média. A intenção é controlar pelo bolso a alta rejeição ao presidente, mantendo movimentos que apoiaram a saída de Dilma Rousseff longe de manifestações.
Sindicatos e oposição
Centrais sindicais e movimentos sociais convocaram mobilização para sexta-feira, mas desistiram de uma nova greve geral. A paralisação fará mais um protesto contra as reformas e pedirá a saída de Temer do Planalto.