Denunciado por corrupção passiva no episódio da mala de R$ 500 mil da JBS, o presidente Michel Temer partiu para o confronto ao atacar a credibilidade de quem o acusa. Em pronunciamento no Palácio do Planalto, classificou como "ficção" e "ataque injurioso e indigno" denúncia apresentada por Rodrigo Janot no Supremo Tribunal Federal (STF). Sem citar o nome do procurador-geral da República, o peemedebista ainda insinuou que ele deseja "parar o país" e pode ter ficado com parte dos "milhões" pagos ao escritório que negociou o acordo de leniência da empresa dos irmãos Batista, onde trabalha um ex-procurador próximo à Janot.
– Talvez os milhões de honorários recebidos não fossem unicamente para o assessor de confiança, que, na verdade, deixou a Procuradoria para trabalhar nessa matéria – afirmou o presidente.
O ex-procurador em questão trata-se de Marcelo Miller. O advogado foi braço-direito de Janot e saiu em abril do Ministério Público Federal, mês em que Joesley Batista gravou Temer, para trabalhar no escritório Trench, Rossi & Watanabe. A banca representou a JBS no acordo de leniência. No mês passado, após o vazamento da delação dos donos da empresa, a PGR informou que Miller não participou da negociação da colaboração dos Batista.
Primeiro presidente da República denunciado por corrupção no exercício do mandato e convicto de que será alvo de novas acusações da PGR, ao menos por obstrução de Justiça, Temer apostou em um tom agressivo no pronunciamento desta terça-feira (27), acompanhado por dezenas de parlamentares e ministros – a principal ausência foi a do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
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Em conversas com seus auxiliares, o peemedebista concluiu que precisava dar um roteiro de argumentos à base parlamentar, que fará pelas próximas semanas sua defesa na Câmara – o governo confia ter ao menos os 172 deputados necessários para engavetar as denúncias.
O episódio envolvendo Miller ganhou destaque no contra-ataque do Planalto por desqualificar Janot, a denúncia e a delação de Joesley, bem como os privilégios do empresário no acordo com a PGR, a exemplo da previsão de não ser denunciado.
– Garantiu (Miller) ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que tira o seu patrão das garras da Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista. Ainda não está claro o que moveu Janot, que homologou uma delação e distribuiu o prêmio da impunidade – disse o presidente, que garantiu não querer fazer "ilações".
Ao longo dos quase 20 minutos de fala, Temer garantiu que não fugirá da "guerra" e acusou o procurador-geral de "reinventar" o Código Penal por denunciar alguém baseado em ilações – Janot sustenta que o presidente receberia os R$ 500 mil entregues em uma mala ao ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RJ).
– Fui denunciado por corrupção passiva sem jamais ter recebido valores, nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem – destacou.
Os aliados do governo no Congresso dirão nos próximos dias que faltam provas diretas, capazes de confirmar que o dinheiro seria para Temer. Também questionarão a validade gravação de conversa do presidente com Joesley, no Palácio do Jaburu.
A tese de defesa, que também será usada no STF para tentar anular a prova, alega que o empresário foi treinado por procuradores, uma ilegalidade por não se tratar de ação controlada. Temer tentou justificar o encontro com Joesley fora da agenda e tarde da noite.
– Recebi naquela oportunidade o maior produtor de proteína animal do mundo. Descobri o verdadeiro Joesley, o bandido confesso, quando ele revelou os crimes que cometeu ao Ministério Público sem nenhuma punição.
Sobre a perícia da Polícia Federal no áudio, que descartou edição, os governistas insistirão no excesso de interrupções para desqualificá-la como prova. Outro argumento repetido pela base tratará da economia. Ao se apresentar como "vítima" da investida de Janot, Temer criticou a estratégia de fatiar as denúncias contra ele, atrasando a retomada da geração de empregos.
– Querem parar o país, parar o Congresso num ato político com denúncias frágeis e precárias – disse Temer.