Às vésperas de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar denúncia contra o presidente Michel Temer, líderes da base aliada na Câmara admitiram que talvez não seja possível assegurar a rejeição pelos deputados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Mesmo com uma coalizão estimada em cerca de 400 parlamentares, os aliados de Temer ponderam que o teor da acusação formal e os seus desdobramentos podem influenciar o posicionamento dos congressistas.
Leia também:
Temer reúne aliados para reagir à denúncia de Janot e buscar sobrevida com apoio do Congresso
Governo Temer tem 7% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha
Cinco situações constrangedoras da viagem de Michel Temer a Rússia e Noruega
Para o líder do PMDB, Baleia Rossi (SP), o governo não pode se descuidar. Além de ser o partido de Temer, é o que tem a maior bancada, com 64 deputados.
– No Parlamento, nada é automático. Vai ter que trabalhar. Cada líder da base vai ter que trabalhar sua bancada. Vai ter que ter convencimento. Não dá para achar que está tudo resolvido – disse ele ao Estadão.
Segundo ele, é preciso "conhecer os elementos da denúncia e formar um convencimento para ajudar os deputados a formarem sua convicção".
Os principais partidos aliados também não asseguram apoio ao governo, em especial na Comissão de Justiça. DEM e PSDB, por exemplo, rejeitam a hipótese de substituir nomes no colegiado que possam votar contra a denúncia.
De acordo com o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli, os tucanos vão "votar de acordo com a sua consciência". Ele também não garante qual será a posição dos tucanos na denúncia:
– Vamos reunir a bancada, vamos discutir e vou tentar buscar maior número de consenso para nos manifestarmos em uníssono.
Outros líderes seguem a mesma linha. José Rocha, do PR, disse que "não é possível prever" se haverá manutenção de apoio. Jovair Arantes, do bloco PTB, PROS, PSL, PRP, disse que tem de "ver a denúncia e analisar". Já Marcos Montes, do PSD, afirmou que "não sabemos o que vai acontecer".
A primeira acusação deve chegar logo ao ministro Edson Fachin até terça-feira (27), que então a remeterá à Câmara. Antes do plenário, a peça passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
São necessários 172 votos dos 513 deputados para negar a autorização. Se aprovada por no mínimo dois terços da Casa, retorna ao Supremo Tribunal Federal. Caso a Corte aceite a denúncia, o presidente é obrigado a se afastar do cargo por 180 dias.
Na noite de domingo, preocupado com os impactos da perícia na gravação de sua conversa com o empresário Joesley Batista, da JBS, e a estratégia de Janot de "fatiar" as denúncias, Temer reuniu por duas horas advogados, ministros e líderes partidários da Câmara para traçar a estratégia dos próximos dias.
A Polícia Federal (PF) já concluiu em relatório parcial que Temer aceitou vantagem indevida da JBS, por meio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Agora, Janot avalia apresentar de duas a três denúncias em momentos separados – o presidente é investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.