Com a imagem destroçada pela delação da JBS, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) teve boas notícias nesta terça-feira (20): a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) colocou em prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, a irmã e o primo do tucano e um ex-assessor do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). Já o pedido de prisão de Aécio, feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR), e seu recurso para retomar o mandato devem ser apreciados na próxima terça-feira. A defesa do parlamentar quer levar o caso ao plenário da Corte.
O futuro político do tucano passa pelas decisões do STF sobre a prisão e a denúncia já apresentada pela PGR por corrupção passiva e obstrução à Justiça – Aécio enfrenta a suspeita de atrapalhar a Lava-Jato e de ter recebido R$ 2 milhões da JBS. Desde 17 de maio, quando vazou o áudio da conversa do político com o empresário Joesley Batista, ele vê ruir a carreira que quase o levou à presidência em 2014, quando teve 51 milhões de votos na derrota para Dilma Rousseff.
A posição da 1ª Turma por três votos a dois (Marco Aurélio Mello, Alexandre de Moraes e Luiz Fux contra Luís Roberto Barroso e Rosa Weber) sobre Andrea Neves foi considerada um bálsamo para o mineiro, afastado em maio do mandato por decisão do ministro Edson Fachin. Amigos do senador afirmam que ele estava "deprimido" pela situação da irmã, sua principal conselheira.
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– Representa um grande alívio para ele – reconheceu o advogado do parlamentar, Alberto Toron.
Além de Andrea, o STF também colocou em prisão domiciliar Frederico Pacheco, primo do parlamentar, e Mendherson Souza Lima, ex-assessor de Perrella. As decisões aliviam a pressão de familiares para que os dois tentem acordo de delação premiada.
Fôlego renovado e blindagem
Com a irmã em casa, tucanos avaliam que Aécio, apeado da presidência do PSDB, ganha fôlego. O partido articula com o Planalto a blindagem para evitar a cassação do senador, mas planeja o futuro com Geraldo Alckimin (SP), João Doria (SP) e Tasso Jereissati (CE) entre os presidenciáveis da legenda.
No Congresso, Aécio tornou-se um constrangimento. A maior parte da bancada do PSDB se esquiva de entrevistas sobre o assunto. Poucos proferem palavras de apoio. Foi o caso do deputado Domingos Sávio (MG), presidente da sigla em Minas Gerais. Nesta terça-feira, ele foi à tribuna defender o amigo, alvo de uma "cilada" de Joesley.
– Comprovada a inocência do Aécio, ele tem capital político suficiente para superar essa crise – diz o parlamentar.
Pós-JBS, adversários e apoiadores concordam que os voos do tucano, agora, ficam restritos a Minas. A pretensão de repetir o avô Tancredo Neves, eleito presidente em 1985, se desfez. Vale o mesmo para a busca por um terceiro mandato como governador do Estado. Aliados mais próximos já aconselharam Aécio a desistir, inclusive, da reeleição ao Senado.
A meta, caso não seja preso, seria a vaga de deputado federal, a fim de preservar o foro privilegiado. Para conquistar sem sustos uma das 53 cadeiras de Minas na Câmara, o parlamentar precisaria de 120 mil votos, em um Estado com 15,5 milhões de eleitores. Escudeiros de longa data desconversam sobre a possibilidade do retorno à Casa – Aécio teve quatro mandatos e presidiu a Câmara entre 2001 e 2002.
– É uma decisão particular – diz o senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Em Minas, o partido teme o impacto da delação da JBS no desempenho dos demais nomes da sigla. Deputados do PMDB, PP, PT e PRB já traçam planos para herdar as vagas de Aécio e Perrella no Senado.
– O Senado está aberto para novas lideranças e não tem favoritos – anima-se o deputado Leonardo Quintão (PMDB).
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AS PEÇAS DO ESQUEMA
- Aécio Neves
O senador afastado pediu R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista com a justificativa de que precisava pagar despesas com advogados em razão de processos judiciais. A conversa foi gravada pelo dono da JBS e a entrega do dinheiro, em etapas e em malas de R$ 500 mil cada vez, foi filmada em uma ação organizada com a Polícia Federal. No diálogo, Aécio combina com Joesley que a entrega deveria ser feita entre duas pessoas de confiança de ambos – os indicados foram Frederico Pacheco, pelo tucano, e Ricardo Saud, pelo empresário. A defesa alega que o dinheiro seria um "empréstimo entre amigos".
- Andréa Neves
Braço direito do irmão, o senador afastado Aécio Neves, teria sido responsável pela primeira abordagem ao empresário Joesley Batista, da JBS, por telefone e WhatsApp para solicitação de ajuda financeira. A jornalista sempre foi figura relevante nas campanhas e gestões do tucano no governo de Minas Gerais. Segundo a defesa, Andréa nunca participou de questões financeiras das disputas eleitorais, como arrecadação de recursos. Em depoimento à Polícia Federal, ela ficou em silêncio. Uma das alegações de seus advogados é de que irmão seria o responsável pelos eventuais crimes investigados. Foi presa no dia 18 de maio.
- Frederico Pacheco
Primo do senador afastado Aécio Neves, foi filmado recebendo uma mala com R$ 500 mil de Ricardo Saud, executivo da JBS. O dinheiro seria parte do pagamento de R$ 2 milhões acertado entre o tucano e o empresário Joesley Batista. Os valores foram repassados depois a Mendherson Souza Lima, assessor parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG). Há uma semana, a defesa de Fred fez um depósito judicial de R$ 1,52 milhão alegando que seria parte do dinheiro recebido da JBS – outros R$ 480 mil foram apreendidos na casa da sogra de Mendherson. Foi preso no dia 18 de maio.
- Mendherson Souza Lima
Assessor parlamentar do senador Zeze Perrella (PMDB-MG), foi o destinatário dos R$ 2 milhões recebidos por Frederico Pacheco da JBS a pedido de Aécio Neves e quem levou o dinheiro de carro de São Paulo a Belo Horizonte. Na casa de sua sogra foram apreendidos R$ 480 mil pela Polícia Federal. Segundo a Procuradoria-Geral da República, os recursos foram parar na Tapera Participações Empreendimentos Agropecuários, do filho de Perrella, Gustavo. O senador peemedebista nega ter recebido recursos da JBS. Mendherson também foi preso em 18 de maio.