O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) defendeu, na manhã desta terça-feira, uma "saída negociada" para a crise política que atinge o governo Michel Temer desde que se tornou público o conteúdo da delação premiada da JBS. Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o parlamentar disse que o presidente deve se dispor para "facilitar o processo da forma que for mais viável".
– A circunstância está difícil, muito difícil, e tende a se agravar. É provável que tenhamos o esvaziamento das reformas daqui para a frente, porque o espectro dessa reforma é realmente estreito. É preciso ter uma agenda consensual, bem mais ampla para o Brasil, para não ficar nesse lero-lero de reformas. Mas não tenho dúvidas de que, no desdobramento dessa crise, o presidente vai compreender o seu papel na história e vai facilitar uma solução. O Brasil não pode ficar indefinidamente nisso.
Leia mais:
Rocha Loures entrega mala com R$ 500 mil na sede da PF, em São Paulo
Janot recorre ao plenário do STF e pede prisão de Aécio e Rocha Loures
Perito contratado por Temer diz que gravação é imprestável como prova
Mesmo após avaliar que Temer não tem condições de se manter à frente do comando do país, Calheiros evitou usar a expressão "renúncia" para defender a saída do presidente. O senador ainda avaliou que um processo de impeachment contra o peemedebista, aos moldes do ocorrido com Dilma Rousseff, não "soluciona" a crise porque leva tempo demais:
– O impeachment não é a saída neste caso porque o impeachment da Dilma demorou quase dois anos. Imagina, nesta crise, nesta dificuldade econômica, neste governo que não consegue entregar os compromissos fundamentais com relação à mudança política e a reformas, você jogar o Brasil em mais.
E acrescentou:
– A crise está se agravando, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) apresentou ontem (segunda-feira) o processo de impeachment, mas esse processo não resolve, porque não carrega consigo a solução para a crise. O último processo de afastamento não resolveu nada. Ele atrapalhou bastante. Eu acho, portanto, que o impeachment não seria a solução. A solução seria uma saída negociada. Eu acho que o presidente da República vai compreender o seu papel histórico e colaborar para termos um rápido desfecho.
Calheiros negou que venham ocorrendo conversas com Temer para lhe indicar a renúncia. Porém, na avaliação do senador, esse diálogo poderia ocorrer a qualquer momento. O senador ainda defendeu as eleições gerais em 2018 e a realização de uma assembleia nacional constituinte.
– Eu acho que vamos ter um calendário, daqui para a frente, que a qualquer momento colocará um desfecho. Vemos essa coisa da renúncia, que é unilateral, vai depender de um ato de vontade do presidente; você tem o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que tem um prazo para ser discutido; e você tem também o STF (Supremo Tribunal Federal) – afirmou. – As coisas estão muito difíceis e, mais cedo ou mais tarde, vamos ter um desfecho. Eu acho que, neste desfecho, o que podemos colocar como melhor para o Brasil, na defesa dos seus objetivos mais permanentes, seria eleição geral em 2018 e assembleia nacional constituinte – acrescentou.
O senador disse que "não será por falta de nomes" que o país terá dificuldades para escolher, em curto prazo, um presidente e um vice-presidente da República. Para assumir o comando do Brasil, Calheiros citou nomes como o da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e do ministro do STF Gilmar Mendes.
Ouça a entrevista completa: