O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse nesta segunda-feira que a citação ao seu nome em delações premiadas não é motivo para sair do governo.
– Em time que está ganhando não se mexe – afirmou o chefe da Casa Civil. – Só citação de delator não é motivo para nada.
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Homem forte do governo e fiador da reforma da Previdência, Padilha retornou ao Palácio do Planalto após 21 dias de licença. O ministro se submeteu a uma cirurgia para retirada da próstata, em Porto Alegre, no último dia 27.
Ao chegar, o chefe da Casa Civil participou de uma reunião com o presidente Michel Temer. Questionado se faria um pronunciamento para esclarecer acusações de delatores da Odebrecht, segundo as quais teria recebido R$ 4 milhões da empreiteira na campanha eleitoral de 2014, Padilha respondeu que não.
– O presidente Michel Temer já firmou a linha de posicionamento do governo – argumentou ele, numa referência ao parâmetro estabelecido por Temer para que ministros deixem a equipe.
Pela linha de corte fixada por Temer, quem for denunciado será afastado para investigação. Se algum auxiliar virar réu, porém, terá de sair do governo.
– Não vou falar sobre o que não existe – insistiu o chefe da Casa Civil. – Está tudo baseado num delator. Qualquer fala agora vai ser prejudicial à investigação e a mim. Então fico quietinho.
Padilha afirmou que os médicos queriam que ele permanecesse em licença no mínimo até o próximo dia 19.
– Eu tinha de ficar de repouso até a semana que vem, segundo recomendação médica, mas o psicológico disse que eu tinha de voltar – disse Padilha, lembrando que a proposta de reforma da Previdência, em tramitação na Câmara dos Deputados, é alvo de críticas até mesmo da base aliada.
– Eu e minha equipe é que temos memória da Previdência – disse o chefe da Casa Civil. – Os médicos disseram que sou doido, mas eu precisava voltar.
Pronto retorno
Na semana passada, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), recomendou que Padilha voltasse "imediatamente" ao cargo para evitar que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pusesse um aliado em sua cadeira.
– Política não se aprende, se compreende. São sinais. Se ele não voltar, o Cunha coloca o Gustavo Rocha na cadeira dele – afirmou Renan, numa referência ao subsecretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, que já foi advogado de Cunha.
Na lista dos "sinais" mencionados por Renan estavam a reorganização do Centrão, grupo que era controlado por Cunha na Câmara.
– Já botaram o Osmar Serraglio no Ministério da Justiça e o André Moura (deputado do PSC) na liderança do governo no Congresso – afirmou Renan, na quarta-feira passada, numa alusão a conhecidos aliados de Cunha.
– Marun vai a Curitiba (onde o ex-presidente da Câmara está preso) e volta querendo deixar claro que agora, depois de avançarem sobre o governo, vão querer avançar sobre o partido. Eu mesmo não fico num partido coordenado por Marun. Não dá, né?
A licença de Padilha coincidiu com o agravamento da crise política. Nesse período, o advogado José Yunes disse que, em setembro de 2014, recebeu um "pacote" em seu escritório, a pedido de Padilha, das mãos do operador financeiro Lúcio Funaro. O lobista é ligado a Cunha.
Além disso, delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht – incluindo a do próprio Marcelo Odebrecht – também ligaram Padilha a um esquema de recebimento de recursos para campanhas do PMDB.
*Estadão Conteúdo