Réu em cinco processos, três deles provenientes da Lava-Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o procurador da República, Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, de "moleque". Segundo Lula, Dallagnol, que é fiel da Igreja Batista, acha que "sentar em cima da Bíblia dele" é a solução dos problemas do país.
– Fomos criados para mudar a história deste país e para agir corretamente. Quem comete erro paga pelo erro que cometeu. A instituição é muito forte. E aquele Dallagnol sugerir que o PT foi criado para ser uma organização criminosa... O que aquele moleque conhece de política? Ele nem sabe como se monta um governo. Não tem a menor noção. Ele acha que sentar em cima da Bíblia dele dá a solução de tudo – disse Lula no encerramento do seminário "O que a Lava-Jato tem feito pelo Brasil" promovido pelo PT.
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Com a voz fraca e abatido por uma virose, Lula falou menos de 10 minutos e chegou a chorar ao dizer que fez um esforço para comparecer ao evento apenas para dar uma satisfação aos mais de 200 convidados que lotaram o auditório de um hotel em São Paulo. Além de dirigentes petistas, o seminário contou com a presença de juristas, jornalistas, petroleiros e políticos de outros partidos.
No discurso, Lula também defendeu o projeto de lei do abuso de autoridade. A posição do ex-presidente foi endossada pelo presidente do PT, Rui Falcão.
– O que o Lula falou é o que nós achamos também. Ninguém pode se colocar acima da lei – disse Falcão.
Os participantes do evento defenderam as investigações da Lava-Jato, mas destacaram os supostos abusos da força-tarefa. Lula desafiou os procuradores a apontarem quais crimes ele cometeu.
– Estou na expectativa para saber qual é o crime que será imputado a mim. Vou nessa briga até o fim. Não tenho negociata. Eles vão ter que provar – disse o ex-presidente.
Lula também afirmou que a operação fez "a coisa mais sem-vergonha" que aconteceu no Brasil, dirigindo ataques ao juiz Sergio Moro e aos membros do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Ele afirmou ainda que Moro, o procurador Deltan Dallagnol e "o delegado da Polícia Federal" não têm mais ética, lisura e honestidade do que ele.
– A Lava-Jato não precisa de um crime, ela acha alguém para depois tentar colocar um crime em cima de um criminoso. E para isso eles fizeram a coisa mais sem-vergonha que aconteceu nesse país porque um juiz precisa da imprensa para execrar as pessoas, que estão sendo citadas, junto à opinião pública e depois facilitar o julgamento – afirmou o petista.
Ele citou o juiz que coordena as investigações em Curitiba e o coordenador da força-tarefa da Lava-Jato no MPF.
– "Eu tenho dito que eles deram um azar muito grande porque foram mexer com quem eles não deveriam ter mexido. Nem o Moro, nem o Dallagnol, nem o delegado da Polícia Federal têm a lisura, a ética e a honestidade que eu tenho nestes 70 anos de vida – falou Lula.
Lula se referiu ao interrogatório que vai comparecer em Curitiba no dia 3 de maio e disse que está esperando por qual crime ele será imputado.
– Eu duvido que tenha um empresário solto ou preso que diga que um dia o Lula pediu 10 centavos para ele – afirmou.
O petista ressaltou que condena que dirigentes partidários peçam dinheiro para empresários.
– Nunca permiti que nenhum empresário fizesse isso, e sou amigo de muitos empresários – declarou.
No discurso, o ex-presidente defendeu a aprovação do projeto de lei do abuso de autoridade no Congresso. O texto é visto como ameaça às investigações. Na plateia do evento, estava o senador Roberto Requião (PMDB-PR), relator da proposta no Senado.
– A gente não pode deixar de aprovar a lei de abuso de autoridade, porque ninguém está acima da Constituição – afirmou Lula.
Ele pediu que os parlamentares petistas "briguem" mais para aprovar a lei e impedir o abuso de agentes públicos no país.
– Nós somos um partido que foi criado para mudar a história desse país, não fomos criados para ficar com medo – disse.
Lula disse que é preciso defender "companheiros" que são acusados sem provas. Na sua fala, não faltaram críticas à imprensa.
– É preciso mostrar o outro lado da Lava-Jato. A Lava-Jato é uma moeda que tem a cara da Globo, das televisões outras, dos jornais, a cara da Veja, da Época, da Istoé, do procurador, da Polícia Federal, tem a cara do Moro. Mas não tem a cara do povo que está sendo prejudicado – disparou.
O petista disse ainda que está sendo vítima de acusações de que ele está antecipando uma candidatura a presidente da República ao fazer atos públicos, como a viagem para a Paraíba nas obras do Rio São Francisco e a manifestação contra a reforma da Previdência na Avenida Paulista.
– Agora vão começar outro processo, dizer que estou vetado para ser candidato porque estou em um processo de antecipação de campanha – disse.
O ex-presidente disse que vai se defender, aguardar o julgamento e "ir até a última consequência" nos processos da Lava-Jato.
– Se eles querem pegar o Lula, não estraguem o Brasil, encontrem outro pretexto, o Brasil é muito maior que o Lula – afirmou.
O petista ressaltou que não tem medo das acusações, mas tem preocupação com a democracia e as instituições.
Requião
Presente no evento do PT para discutir a Lava-Jato, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) garantiu que o projeto do abuso de autoridade vai ser votado no Senado. E também destacou que "tem todas as condições" para ser aprovado. À Agência Estado, Requião afirmou que foi convidado por Lula para comparecer ao evento. Filiado ao partido do presidente Michel Temer, mas atuante na oposição ao peemedebista, Requião era o único parlamentar não petista presente no evento.
– Qual o problema? Ele (Lula) me convidou e convidou o PMDB – brincou.
*Estadão Conteúdo