Assessor especial da Presidência da República até o final do ano passado e amigo pessoal do presidente Michel Temer há mais de 40 anos, o advogado José Yunes disse que intermediou o recebimento e a entrega de um "envelope" para o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, que saiu de licença nesta quinta-feira e fará uma cirurgia em Porto Alegre.
A encomenda, segundo ele, teria sido entregue em setembro de 2014 – pouco antes da eleição presidencial na qual a chapa Dilma-Temer foi reeleita – pelo doleiro Lúcio Funaro, apontado por investigadores da Operação Lava-Jato como operador do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
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Yunes disse que resolveu falar sobre o assunto para contestar a versão do engenheiro da Odebrecht, Cláudio Melo, que, em delação premiada, afirmou que Yunes recebeu em seu escritório a quantia de R$ 1 milhão para ser repassado para campanhas peemedebistas, via caixa 2.
O advogado falou que desconhece o teor do envelope do qual serviu de "mula".
– O Padilha me ligou e me perguntou se eu poderia receber um documento que depois seria pego por outra pessoa. Eu disse que não teria problema – contou.
Questionado, ele disse não lembrar o tamanho e a espessura do envelope. Ele também disse que conheceu Funaro naquele dia:
– Ele chegou, se apresentou, nós conversamos um pouco sobre política e depois ele foi embora. Mais tarde, uma pessoa foi buscar a encomenda que havia sido deixada pelo Lúcio na mão de minha secretária. Esse envelope me passou lá como um documento. Eu jamais violaria um envelope.
Yunes afirmou ainda que foi a primeira e única vez que recebeu documentos em nome de Padilha.
– Como ele também é advogado e milita na área imobiliária, eu não vi problema. Não poderia imaginar que era dinheiro, até porque nunca mexi com dinheiro de campanha – disse.
O advogado, que pediu demissão do governo logo após a divulgação do conteúdo da delação de Melo, apresentou-se espontaneamente na semana passada na Procuradoria-Geral da República e deu detalhes sobre o episódio. À Folha de S.Paulo, fontes informaram que o órgão deverá pedir investigação sobre o caso.
Contraponto
ZH não conseguiu contato com Padilha e sua assessoria na manhã desta sexta-feira. À Revista Veja, o ministro afirmou que não conhece Funaro e negou irregularidades:
– Por não conhecê-lo, logo não pedi nada a ele.
ENTENDA