Em uma derrota da equipe econômica de Michel Temer, a Câmara aprovou a renegociação da dívida dos Estados sem contrapartidas duras no plano de recuperação fiscal. No entanto, como a adesão ao programa é voluntária, o Ministério da Fazenda pretende impor medidas de austeridade nas negociações com os governadores interessados na carência de 36 meses no pagamento da parcela do débito com a União.
Um dos governadores que se empenhou pela aprovação do regime de recuperação, José Ivo Sartori aguarda a sanção presidencial das regras para iniciar as tratativas com o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), o que deve ocorrer a partir de janeiro. O Piratini terá de apresentar documentos, discutir um plano de ajuste e assinar um contrato com a União.
Projeções iniciais apontam que as discussões podem levar de quatro a cinco meses. Se fechado o acordo em 2017, a carência iria até 2020. Cálculos do governo gaúcho indicam que os três anos podem representar alívio de R$ 8,75 bilhões – o valor não será perdoado, sendo pago posteriormente.
Junto do governador fluminense, Luiz Fernando Pezão, Sartori participou em Brasília do corpo a corpo com deputados para aprovar o plano de recuperação na Câmara às vésperas do Natal.
– Foi uma construção alicerçada no diálogo, com outros governadores e lideranças. São os interesses da sociedade acima das diferenças político-partidárias –afirmou o gaúcho.
A aprovação exigiu mudanças no texto enviado pelo Senado, que proibia os Estados em recuperação de conceder reajuste aos servidores, realizar concursos públicos e dar incentivos fiscais.
Diante da resistência dos deputados, foi costurado um texto mais brando, que restringe o acesso a empréstimos para os Estados que aderirem ao programa, negociando outras ações de ajuste diretamente com a Fazenda. Em nota, a pasta frisou que compete à ela analisar e recomendar a aprovação de cada plano.
"O governo tomará todas as medidas para que as propostas aprovadas assegurem que os Estados readquiram o equilíbrio fiscal e financeiro", diz o texto.
Secretário da Fazenda do Estado, Giovani Feltes avalia que o Piratini iniciará a negociação em vantagem, pois já aprovou medidas defendidas por Meirelles, enquanto outras estão no pacote em apreciação pela Assembleia Legislativa:
– Criamos previdência complementar, reduzimos secretarias, não concedemos aumentos, temos uma nova lei de responsabilidade fiscal. Quando sentarmos com o ministro Meirelles, teremos quase a totalidade do dever de casa cumprida.
Leia mais
Deputados decidem votar renegociação das dívidas dos Estados
Líder do governo diz que, sem acordo, será difícil votar texto neste ano
Câmara exige retirada de contrapartidas dos Estados para votar renegociação
O acordo para votar a renegociação na Câmara exigiu horas de tratativas e idas e vindas na proposta do relator Esperidião Amin (PP-SC). Pela manhã, um café na residência oficial da presidência da Casa alinhavou as mudanças na proposta do Senado. O anfitrião Rodrigo Maia (DEM-RJ) articulou com líderes a retirada das contrapartidas, por considerar que interferiam em prerrogativas das unidades da federação.
Os deputados entenderam que o detalhamento das medidas de austeridade deve ser discutido no contrato da recuperação fiscal, firmado entre Ministério da Fazenda e Estados. Em alguns casos, será preciso aprovar leis nas Assembleias Legislativas.
– O governo federal terá condições de incluir contrapartidas nos contratos. Esse é um desgaste que não cabe à Câmara passar – disse Maia.
O Ministério da Fazenda não gostou das alterações e entrou em atrito com deputados. Líder do governo, André Moura (PSC-SE) orientou a base, ao longo da tarde, para derrubar a sessão. Ao decidir peitar Meirelles e vencer a obstrução do PT, os líderes aliados de Temer viabilizaram, inclusive com o apoio da oposição, a aprovação do projeto.
Plano vai à sanção presidencial
- Na renegociação da dívida dos Estados com a União, a Câmara aprovou um programa de recuperação fiscal. O plano vai à sanção presidencial.
- Com adesão voluntária, permite que os Estados fiquem 36 meses sem pagar as parcelas da dívida.
- Cada Estado negociará com o Ministério da Fazenda seu contrato de recuperação.
- A Fazenda exigirá contrapartidas para conter gastos. O Rio Grande do Sul tem interesse no plano do governo.