Documentos da ditadura militar, em especial de entre 1966 e 1991, estarão disponíveis para o público, de forma gratuita, na Unisinos. Um total de 17.635 arquivos serão disponibilizados de forma digital. É o segundo maior acervo – o primeiro é o de São Paulo, com 20.185 documentos, e o terceiro o do Rio de Janeiro, com 17.333.
A universidade receberá nesta terça-feira a visita do professor Grimaldo Zachariadhes, coordenador do Núcleo de Estudos Sobre o Regime Militar. O historiador fará a entrega dos Arquivos Digitais do SNI (Serviço Nacional de Informações) – Agência RS às 17h, na sala Santander, do campus Porto Alegre. Em seguida, será lançado o livro do pesquisador sobre a época, 1964: 50 anos depois, a ditadura em debate, em parceria com o Arquivo Nacional.
– É um acervo inédito. Havia agências regionais do SNI, com informações fornecidas pelos arapongas gaúchos. Houve muita destruição de documentos. A estimativa é de que 20% estejam preservados – diz Zachariadhes.
O material que chega à Unisinos, reunido pelo projeto de Resgate da História, consiste no mapeamento e coleta da documentação digitalizada nos arquivos do Sudeste e de Brasília. No total, foram coletados cerca de 500 mil documentos de vários acervos e instituições. Em cada região do país, uma instituição foi escolhida para ser o centro de referência do arquivo digital e responsabilizar-se pela guarda e disponibilização das informações. No Rio Grande do Sul, essa tarefa ficou a cargo da Unisinos. A escolha se deu devido ao compromisso da universidade disponibilizar os documentos a todas as pessoas e de forma gratuita, ao ambiente que sua biblioteca oferece e ao histórico de preservação da memória – a universidade já é a guardiã do Memorial Jesuíta.
– Temos esse material porque a ditadura brasileira foi muito burocrática. Foi a ditadura mais burocrática entre todas as da América do Sul. Os documentos mostram a ênfase que os arapongas davam para a questão dos costumes. Havia muita perseguição, chantagens. Esses documentos mostram que a ditadura brasileira foi ainda pior do que se fala, era ampla. Perseguia esquerda armada, a esquerda moderada e também grupos conservadores – diz Zachariadhes, citando como exemplo investigações aos testemunhas de Jeová.
Havia diversos tipos de arapongas, e o SNI diferenciava os "oficiais" dos "cachorros" – delatores voluntários. Destacam-se as investigações sobre a sexualidade. Zachariadhes supõe que, a partir dessas informações, ocorriam chantagens. Uma caracterização corriqueira era de "maconheiro, esquerdista e pederasta passivo". Outra era a que atribuía ao investigado "indiferença ou impotência sexual". Também a atuação da imprensa era acompanhada anualmente e em detalhes, um controle permanente. Eram citados nomes de jornalistas e a preferência ideológica de cada um deles. Havia comentários como o de que determinado meio de comunicação não publicava informações positivas em razão da suposta "infiltração comunista".
FIQUE POR DENTRO
Evento: Entrega da Doação dos Arquivos Digitais do SNI
Local: Sala Santander – Campus Unisinos Porto Alegre (Av. Luiz Manoel Gonzaga, 744 – Bairro Três Figueiras)
Horário: das 17h às 18h
Disponibilização dos documentos: a partir de quinta-feira, 1º de setembro
Agendamentos: não serão necessários
Horário para consultas: das 8h às 22h, de segundas a sextas-feiras
Local: Biblioteca da Unisinos em São Leopoldo e, a partir de março, também no campus de Porto Alegre
Custo da consulta: gratuita