Durante três dias, o programa Conexão Repórter, do SBT, acompanhou a rotina da presidente afastada, Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada – da pedalada matinal às reuniões. No documentário chamado Crepúsculo no Alvorada, a petista de 68 anos conta como é enfrentar o impeachment, fala sobre as sessões de tortura que viveu durante a ditadura militar, relata como conviveu com um quadro grave de câncer, além de responder a questões sobre caixa 2, esquemas de corrupção, as traições que sofreu e a relação com Luiz Inácio Lula da Silva.
Isolada e abandonada por aliados, ela examina o passado, reencontra lembranças e alterna momentos de visível irritação com outros de resistência. Em uma das perguntas, o apresentador Roberto Cabrini questiona se ela vê Michel Temer (PMDB) como presidente da República.
– Acho que a presidenta da República Federativa do Brasil sou eu. Fui eleita com 54 milhões de votos– respondeu.
Leia também:
Peemedebistas pressionam para que Renan vote contra Dilma
Na TV, Temer vai citar "herança" e otimismo após conclusão do impeachment de Dilma
Ao dizer que não cogita renunciar, a primeira presidente brasileira reforça a ideia de que não aceita o seu vice dirigindo o país.
– Considero a presidência de Michel Temer bastante questionável. Ele não foi eleito para cumprir o programa que ele está colocando – complementou.
Cabrini pergunta à petista se ela cometeu erros. Na resposta, Temer é novamente citado, desta vez indiretamente.
– Cometi muitos erros, inclusive não perceber que iria ser traída do jeito que fui. São imensos os meus erros, mas também são grandes os meus acertos.
Quando o assunto é corrupção, ela é enfática ao se inocentar de todas as acusações que recaem sobre seus ombros, como as pedaladas fiscais. Dilma também afirma não ter medo de ser presa.
– Se tem uma coisa que eu não sou e que minha vida demonstra isso, é que não sou corrupta – afirmou, antes de explicar porque não considera crime as chamadas pedaladas fiscais.
– O próprio usurpador golpista (Michel Temer) fala que não houve crime.(...) Está claro que não cometi crime de responsabilidade. E se isso é crime, é crime desde 2000 – ressaltou.
Ao ser questionada se ela se sente traída, Dilma responde:
– Inteiramente traída.
O entrevistador, então, pergunta para que a presidente afastada projete o futuro, pós-impeachment e o eventual término de seu mandato. Porém, Dilma se recusa, em sua resposta, a aventar a possibilidade de ter o seu governo interrompido em definitivo.
– Em deixo a cadeira da presidência em dezembro de 2019, que é quando meu mandato termina. – Eu vou lutar até o último minuto, enfatizou.
Sobre a guerra, como ela classificou a contabilidade de votos dos senadores que irão decidir sobre o futuro político da petista, Dilma foi perguntada se teria o número necessário de votos para se manter no poder.
– Esta informação é sigilosa – disse, afirmando que não deseja que seus oponentes exerçam pressão sobre os senadores para mudarem de opinião.