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Ao prender o ex-ministro Paulo Bernardo, a Operação Custo Brasil provocou um abalo na defesa da presidente afastada Dilma Rousseff. Além de ampliar o desgaste do PT, por envolver o partido em outra suspeita de corrupção, a investigação atingiu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Bernardo e integrante da tropa de choque de Dilma na comissão especial do impeachment.
A operação também impacta no ânimo dos petistas, que admitem nos bastidores a baixa probabilidade de salvar a presidente da cassação. As revelações da Custo Brasil, desdobramento da Lava-Jato que aponta desvio de mais de R$ 100 milhões no Ministério do Planejamento, dificultam a tentativa de virar votos no julgamento final do impeachment, previsto para agosto no plenário.
No Senado, o PT tratou de preservar Gleisi, que não era alvo da operação e faltou à reunião da comissão que trata do afastamento de Dilma. A bancada emitiu nota de repúdio ao "claro abuso de poder cometido" contra a parlamentar. Para Lindbergh Farias (PT-RJ), a ação da Polícia Federal (PF), autorizada pela Justiça de São Paulo, serviu para constranger Gleisi e enfraquecer a defesa da presidente afastada:
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– Qual a razão disso? Constranger a senadora, tentar abafar outros fatos? Hoje, aqui, ninguém tá falando de Sérgio Guerra, ninguém tá falando da propina do presidente do PSDB para parar uma CPI. Vamos continuar dando combate, porque não houve crime de responsabilidade por parte da presidente Dilma.
Lindbergh garantiu que Gleisi, ex-ministra da Casa Civil da presidente afastada, continuará na comissão, onde tem se destacado na linha de frente da coalizão contrária ao impeachment. No entanto, em reservado, petistas admitem o constrangimento. Além de ter de explicar a prisão do marido, a parlamentar já foi denunciada, junto com ele, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na Lava-Jato. As apurações indicam que o casal teria recebido R$ 1 milhão de propina em contratos firmados na Petrobras. Eles negam as suspeitas.
Rivais do PT destacam que a situação reforça a tese de "conjunto da obra", utilizada por deputados que votaram a favor do afastamento de Dilma na Câmara. Já senadores que integram a comissão especial garantem que os trabalhos seguirão restritos aos decretos de crédito suplementar.
– Cria um constrangimento, mas a comissão vai seguir discutindo os crimes de responsabilidade – afirma Ana Amélia Lemos (PP-RS).
Buscas em imóvel funcional provocam questionamento
A prisão de Bernardo ficou de fora dos debates da comissão. Senadores repercutiram o caso depois do fim da reunião, também sem posicionamentos mais duros sobre Gleisi.
– Por mais que o embate político seja duro, há uma família por trás. Não há motivo para tripudiar – ponderou Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB.
O corporativismo também teve vez. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que já foi alvo de um pedido de prisão, encomendou à área jurídica da Casa uma reclamação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) e entrará com representação disciplinar no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) contra o juiz que autorizou a operação. O peemedebista questiona o fato de mandados de prisão e de buscas terem ocorrido no apartamento funcional de Gleisi, o que, na visão dele, exigiria autorização da Corte. Vizinhos do imóvel em Curitiba aplaudiram a saída do agentes da PF após o trabalho de duas horas no local nesta quinta-feira.
A cautela nos comentários e os movimentos de proteção são reflexo de um cenário no qual caciques dos principais partidos do Senado, como PMDB, PSDB, DEM, PP e PSB, tentam se defender da Lava-Jato. Alvo da solidariedade dos colegas, Gleisi teve a atenção chamada na semana passada. Ao bater no governo interino de Michel Temer por causa da demissão de Henrique Alves do Ministério do Turismo, derrubado pela delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, ouviu de Ronaldo Caiado (DEM-GO) um recado que pareceu profético:
– Vamos parar de falar de corda em casa de enforcado.