Uma manifestação contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, na noite desta terça-feira, encerrou a programação do décimo dia de acampamento na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O músico Tico Santa Cruz e o rapper Flávio Renegado foram convidados para discursar em um ato político-cultural, que teve também diversos debates, serviços e atrações oferecidos por movimentos sociais.
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O acampamento foi montado após uma manifestação no dia 1º de maio, quando se celebra o Dia do Trabalhador. Ele é organizado pela Frente Brasil Popular, que é composta pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-MG), pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), por entidades estudantis, sindicatos e outros grupos populares.
Há na praça cerca de 60 barracas. Também foi estruturado um espaço para debate e um pequeno palco. Profissionais de saúde identificados com a mobilização oferecem, em um estande, serviços básicos como aferição da pressão arterial e da temperatura.
Solidariedade
O deputado estadual Rogério Correia (PT) faz um balanço positivo da mobilização e considera que o processo de impeachment é um golpe:
– O acampamento começou com poucas barracas e hoje temos a praça tomada. A solidariedade é grande. Muitas pessoas se integram nas atividades ao longo do dia. Essa resistência ao golpe segue e será intensa.
Correia disse que a queda de Dilma Rousseff seria uma derrota pontual e a manutenção da mobilização popular poderia levar, mais à frente, a reformas sociais mais profundas.
– Esse projeto que unifica as elites coloca em risco conquistas sociais com o Bolsa Família, o Prouni e as cotas, entre outras. Mas se resistirmos, podemos alcançar vitórias até mais avançadas do que as que obtivemos até agora. Precisamos de uma reforma política para que o Legislativo e o Judiciário tenham mais controle social, reformas tributárias que distribuam mais renda e uma reforma midiática. Não é mais possível que oligopólios de comunicação dominem o país e façam prosperar suas mentiras – defendeu.
Semelhanças
O jornalista José Maria Rabêlo, de 87 anos, disse não ter dúvidas de que, após algumas quedas, sempre vem uma vitória. Ele comparou o atual momento com outros que presenciou.
– O que ocorreu em 1964 é muito parecido que o que está se passando agora. No exílio, também vivi o golpe de 1973 no Chile, quando Pinochet assumiu o governo. E vejo muitas semelhanças. Não há que se falar em erros da presidenta Dilma Rousseff, porque estão derrubando ela não pelos erros, mas pelos acertos. A causa de toda essa reação conservadora são os avanços sociais. As classes dominantes, frente a qualquer avanço social, sempre regiram dessa maneira – disse.
Fundador do PDT, ele se disse surpreso com a decisão da legenda de aprovar posição contra o impeachment, mas está cético quanto às expulsões dos parlamentares que não seguiram a orientação partidária. Em nota divulgada no mês passado, a sigla anunciou que iniciaria o processo de expulsão dos seis deputados federais que votaram a favor da admissibilidade do pedido de afastamento de Dilma Rousseff.
– Embora eu seja membro do diretório nacional, o PDT de hoje não é o meu PDT. O meu PDT é o PDT do Brizola. Nem sei se essas expulsões serão concretizadas. O PDT se afastou das causas trabalhistas que justificou a sua fundação. Acertou dessa vez e vamos ver se essa postura irá perdurar – disse Rabêlo.
Mobilização
Embora não esteja acampada, a assistente social Ana Maria Belineli, de 26 anos, é presença certa nas atividades diárias da Praça da Liberdade. Participante das Brigadas Populares, movimento que levanta a bandeira da reforma urbana, ela e mais um grupo de militantes fizeram mais cedo um ato contra a reintegração de posse dos terrenos onde estão as ocupações Maria Vitória e Maria Guerreira, na região de Venda Nova.
Em sua opinião, o afastamento de Dilma Rousseff não vai colocar fim às mobilizações das organizações sociais:
– O papel dos movimentos é seguir nas ruas, ocupando os espaços e denunciando o golpe. Nós não vamos sair.
O geógrafo Thiago Sales, de 27 anos, foi convidado por um amigo para ir ao acampamento. Ele participou das atividades pela primeira vez.
– A situação exige que tomemos posição. Acho essa mobilização importante e vou voltar nos próximos dias – opinou.