Depois de duas semanas de protestos constantes, a Câmara e o Senado mostraram que, pressionados, os parlamentares são capazes de produzir até em dia de jogo da Seleção e em uma semana em que tradicionalmente falta quórum por conta das festas juninas. No Executivo, no Legislativo e no criatório de candidatos às eleições de 2014 florescem estratégias para transformar a energia das ruas em algo produtivo e não deixar que prosperem campanhas do tipo não reeleja ninguém.
Mesmo sendo uma frase usada na Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em 1964, "o gigante acordou" tornou-se uma das mais populares dos cartazes empunhados por jovens nascidos depois da redemocratização. Esse gigante conectado nas redes sociais tem mais facilidade para cobrar, porque ni nguém apaga uma promessa que foi parar no Google.
Da presidente Dilma Rousseff, o gigante vai cobrar o investimento de R$ 50 bilhões em mobilidade urbana e melhores serviços públicos. Do Congresso, que mantenha esse inédito ritmo de produtividade. Da oposição, se chegar ao poder, vai exigir que cumpra o prometido na tentativa de conquistar simpatia popular. Aécio Neves, por exemplo, fez na terça-feira um pronunciamento que equivale a um plano de governo. É uma agenda oferecida a Dilma, que, naturalmente, serve para ele.
Para começar, o gigante pode cobrar a adoção das restrições da Lei da Ficha Limpa para o preenchimento de cargos públicos, a revogação do decreto que proíbe a divulgação dos gastos realizados nas viagens internacionais da Presidência, a liberação do acesso aos gastos com cartões corporativos e a redução de 50% dos ministérios e de cargos em comissão.
Aécio sugeriu que Dilma permita aos Estados aplicarem em áreas como saneamento e mobilidade urbana 50% do que pagam a título de serviço da dívida. O gigante das ruas pode não se empolgar com um tema árido como é a dívida, mas os governadores que se elegerão em 2014 têm uma pauta para cobrar do tucano, se ele se eleger presidente. As demais sugestões apresentadas a Dilma por Aécio são do tipo que qualquer brasileiro assinaria embaixo. Se o gigante encampá-las, o eleito em 2014, seja de que partido for, vai ter bafo na nuca do primeiro ao último dia.