Em entrevista ao Portal Terra, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, o Jango, contou ter se disfarçado de repórter em 2006 para entrar em uma penitenciária gaúcha e ouvir o relato do ex-agente do serviço secreto uruguaio Mário Neira Barreiro.
Em entrevistas e depoimentos, Neira reforçou, nos últimos anos, a suspeita de que Jango foi assassinado.
A Comissão Nacional da Verdade decidiu, a pedido da família, exumar o corpo de Jango, que morreu em 1976. O objetivo é investigar a causa da morte. João Vicente esteve presente, conforme reportagem do Terra, na entrevista que o preso concedeu para um documentário produzido pela TV Senado. O encontro ocorreu na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
- "(Ele) disse que a família não tinha motivos de interesse pelo acontecido... Nesse momento eu disse a ele: "olha, Mario, eu sou João Vicente, não sou repórter, e vim aqui para conhecer a verdade. Foi nesse momento que ele abriu o verbo sobre sua atuação na operação que havia culminado com a morte de meu pai", contou João Vicente ao portal.
A suspeita é de que Jango tenha sido envenenado.
- A certidão de óbito não dizia nada com nada, apenas 'Muerte por enfermedad' e, o mais grave de tudo, que não foi feita a autópsia dos restos mortais, nem na Argentina e, tampouco, em nosso país - disse o filho do ex-presidente ao Terra.
Capturado em Porto Alegre por assalto a banco e tráfico de armas, Neira cumpriu pena e, desde janeiro, está em liberdade condicional, residindo em Gravataí. A Comissão da Verdade tenta localizá-lo, para ser ouvido mais uma vez.
Conforme reportagem publicada por Zero Hora, Neira integrou o grupo Gama, unidade paramilitar de apoio ao serviço de inteligência uruguaio, sob o codinome Tenente Tamuz. Ele afirma ter vigiado 24 horas por dia Jango, de 1973 até o dia da sua morte. Disse isso em depoimentos a comissões parlamentares e em entrevistas. Neira nega ter assassinado Jango, mas afirma que seus colegas o fizeram. Teriam colocado um produto que causa hipertensão em meio ao frasco de vasodilatadores que Jango tomava para prevenir infarto. As pílulas da morte seriam comprimidos de potássio e um cloreto desidratado num esterilizador. A mistura teria sido feita por um médico no hotel em que Jango morava, de tal forma que provocou o infarto fatal. Esse médico teria sido morto pelos militares, como queima de arquivo. Neira diz que o assassinato foi tramado pelo temido delegado Sérgio Fleury, do Dops de São Paulo.