Há mais de dois meses que a comunidade de Itati, distante 160 quilômetros de Porto Alegre, vive sobressaltada. Desde que denunciou suposta fraude no concurso público da prefeitura, a vereadora Roseli da Silva Santos tem sofrido ameaças.
Na madrugada de sábado, o estampido de quatro disparos atingiu a residência da vereadora Roseli da Silva Santos (PP) e acabou com a paz na vizinhança.
- Aqui, ninguém mais dorme tranquilo - resume uma moradora que, como a maioria, prefere o anonimato.
Tudo começou no fim do ano passado. Convencida de que o concurso público promovido pela prefeitura em novembro para preencher 81 vagas havia sido maculado por interesses escusos, Roseli procurou o Ministério Público e prestou depoimento.
A partir dali, uma investigação ruidosa teve início e 41 pessoas acabaram indiciadas pela equipe do delegado Adriano Koehler Pinto, da Delegacia da Polícia Civil de Terra de Areia. Um dos suspeitos de liderar o esquema, o secretário de Administração do município, Oziel Witt, foi preso.
- O que temos em Itati é uma verdadeira quadrilha. É coisa grande - define o inspetor Paulo Lamas.
Segundo as investigações, a maioria dos aprovados no concurso seria ligada a funcionários da prefeitura, entre eles o prefeito Luiz Carlos Chaves e o secretário Witt. Esses candidatos teriam deixado os cartões de resposta praticamente vazios no dia da prova.
Posteriormente, suspeita-se de que teriam sido preenchidos com as respostas certas e enviados para correção, resultando na aprovação dos envolvidos. Domingos Sinhorelli Neto, advogado de Witt, nega envolvimento de seu cliente na suposta fraude e nas ameaças contra a vereadora.
MP solicitará que prova seja anulada
A situação paralisou a cidade de 2,6 mil habitantes, especialmente quando começaram a ressoar as notícias de ameaças contra Roseli - que passou a receber segurança da Brigada Militar dia e noite.
Pelo menos metade das vagas do concurso foi preenchida, e as incertezas em relação ao futuro amplificaram o desconforto. Membros do PP, partido da vereadora, e do PMDB, que comanda a prefeitura, passaram a brigar em público.
Com medo de represália, poucos itatienses se aventuravam a comentar o caso ontem. Na prefeitura, o vice-prefeito Gilvan Neubert (PMDB) reclamava da paralisia geral - muitos servidores sequer conseguiam trabalhar em função da ansiedade.
- Tudo o que queremos é esclarecer isso logo. Do jeito que está, não pode continuar - diz o vice.
Entre os motivos do silêncio, está a proximidade: todos se conhecem e têm receio de criar mal-estar - ou inimizade. Mas há exceções. Da janela de sua casa, a agricultora Nádia Kellermann, 26 anos, contou ter sido uma das candidatas reprovadas:
- Eu queria a chance de fazer a prova de novo. Se for verdade, é muito injusta essa história toda.
No que depender do Ministério Público, é exatamente o que vai ocorrer.
- Vamos ajuizar uma ação civil pública para pedir a anulação do concurso e das nomeações já executadas. Chegamos a descobrir casos de candidatos que estavam viajando no dia do exame, sequer responderam às questões, e ainda assim foram aprovados - diz o promotor Reginaldo Freitas da Silva, de Santo Antônio da Patrulha.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
Tiros e suspeitas
Vereadora de Itati sofre ameaças após denunciar suposta fraude em concurso público
Convencida de que havia irregularidades no preenchimento das vagas, Roseli da Silva Santos procurou o MP para prestar depoimento
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