Desde que se tornou pivô da crise na prefeitura de Itati, a vereadora Roseli da Silva Santos (PP), 43 anos, não consegue dormir direito. Mãe de três filhos e avó de dois netos, ela teme novas ameaças, e está vivendo à base de calmantes.
Em seu primeiro mandato na Câmara - para o qual foi eleita com 150 votos -, Rose, como é conhecida na cidade, garante: não vai sossegar até que o concurso público realizado em dezembro passado tenha a anulação confirmada e seja refeito.
A seguir, a síntese da entrevista concedida na segunda-feira a ZH:
ZH - Como a senhora ficou sabendo das suspeitas envolvendo o concurso?
Roseli - Essa história começou antes do concurso. Já circulavam comentários de que haveria irregularidades. O pessoal chegou a fazer uma lista prévia das pessoas que passariam, e elas passaram, todas parentes de gente ligada à prefeitura. Os próprios fiscais viram candidatos entregando folhas de resposta vazias, e depois eles apareceram nos primeiros lugares. Todo mundo achou estranho, porque aqui todo mundo se conhece.
ZH - Quando a senhora começou a sofrer ameaças?
Roseli - A Polícia Civil viu que as suspeitas tinham fundamento e decidiu investigar. Foi aí que tudo começou. Foram várias ameaças. Primeiro, em janeiro, um carro me cortou a frente e fugiu. Registrei ocorrência. Depois, surgiu um boato de que três mulheres, entre elas eu, estavam marcadas para morrer. Aí vieram as ligações. Na primeira, um cidadão avisou que ia dar um tiro na minha cabeça. Na segunda, uma mulher disse que ia arrancar todos os cabelos e cortar minha filha em pedacinhos. Foram nove minutos de pânico. Aquilo acabou comigo.
ZH - E os tiros, no sábado?
Roseli - Estava dormindo com a minha filha no quarto. Acordamos com os disparos e com o barulho de um carro. Parecia que estava caindo o telhado. Pensei que ia derrubar a casa. Só tive tempo de pegar minha filha, enrolar no cobertor e rolar para o chão. Liguei para o 190 e para um colega pedindo socorro, porque estavam metralhando minha casa. Foi horrível.
ZH - Sua rotina mudou?
Roseli - Não posso mais sair como antes. Tenho medo que aconteça algo para a minha família. Tenho medo de morrer. Só espero que o comando da Brigada mantenha policiais aqui até que tudo se acalme. Não posso mais ouvir barulho de carro. Estou à base de calmante. Antes dormia com a porta encostada. Agora tranco tudo e acendo todas as luzes. Está muito difícil.
ZH - A senhora se arrependeu de ter se envolvido no caso?
Roseli - Não. Temor eu tenho, mas não arrependimento. Estou cumprindo minha missão como vereadora. Acredito na Justiça.
ZH - O que a senhora espera?
Roseli - Quero que o concurso seja anulado e que seja aplicada uma nova prova. Só fecho a boca se me matarem.
juliana.bublitz@zerohora.com.br