A longa indefinição envolvendo o Ministério do Trabalho - ocupado por um interino desde dezembro, quando Carlos Lupi (PDT) caiu por denúncias de corrupção - é o retrato mais evidente de um quebra-cabeça complexo movido pela presidente Dilma Rousseff no Executivo federal.
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Dilma mira uma série de objetivos enquanto altera as peças da Esplanada: mantém um olho na própria governabilidade, enquanto o outro fita a eleição municipal de São Paulo. A presidente cansou do PDT - mas ainda assim precisa dele.
O deputado gaúcho Vieira da Cunha, que até poucos dias era o favorito para assumir o Ministério do Trabalho, revelou-se outra decepção da presidente com o partido. Agora, quem ganha força para abocanhar a pasta é um consórcio envolvendo PTB e PSC.
Na terça-feira, o PRB ganhou seu primeiro ministério, com Marcelo Crivella substituindo na Pesca o petista Luiz Sérgio. Assessores do Planalto confirmam que a intenção é convencer o candidato do PRB em São Paulo, Celso Russomano, a deixar a disputa em favor de Fernando Haddad (PT).
Agora, PTB e PSC também se aproximam de cargos de grande relevância. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, deve receber uma comitiva dessas duas siglas. Dois deputados federais já aparecem como cotados para encabeçar a pasta do Trabalho: Hugo Leal (PSC-RJ) e Alex Canziani (PTB-PR). Independentemente de quem assumisse, os cargos do ministério seriam rateados entre as legendas.
- Nós temos um acordo, PTB e PSC. Votamos juntos (no Congresso) e trabalhamos juntos. É evidente que temos interesse no ministério e estamos atrás dessa possibilidade - diz o líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO).
Ao barganhar com tanta gente, a meta mais óbvia da presidente é garantir uma base forte. Uma base tão larga que, mesmo com eventuais dissidências na hora de votar, garanta a aprovação de qualquer projeto no Congresso.
Nesse ponto, o PDT é visto como o companheiro infiel: 22 dos 24 deputados presentes na terça-feira, no plenário da Câmara, votaram contra o fundo de previdência complementar dos servidores públicos - prioridade da presidente que acabou aprovada.
Postura de Lupi irrita presidente
Vieira da Cunha, então cotado para ministro do Trabalho, não foi exceção e votou contra. Foi uma nova decepção de Dilma com os pedetistas. A primeira envolveu a queda de Lupi, que nunca conseguiu explicar a montoeira de denúncias que o abateu. Depois, a presidente viu-se obrigada a tratar com o próprio Lupi, que é presidente nacional do PDT, sobre quem seria seu substituto.
- Ela quer distância dele. Uma vez, Lupi mandou Lula ligar para ela, para que Dilma tomasse uma decisão sobre quem seria o novo ministro. Ela ficou louca com essa interferência - diz um assessor com trânsito no Planalto.
Se por um lado Dilma se irrita com o PDT - e tirar o partido do Ministério do Trabalho seria um reflexo da insatisfação -, por outro expulsá-lo do governo seria temerário. Discute-se a ideia de oferecer um ministério menor à legenda. Afinal, também há uma irritação crescente no PDT.
Em represália à presidente, a sigla resolveu ingressar no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), no Estado de São Paulo, indicando o secretário do Trabalho. O deputado Paulinho da Força, que é pré-candidato do PDT na eleição municipal, já negocia apoiar o tucano José Serra em um eventual segundo turno.
- A presidente Dilma não fala com ninguém. Está igual à rainha da Inglaterra - conclui Paulinho.
Tabuleiro do Planalto
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Paulo Germano
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