Os 209 mil eleitores de Santa Maria escolhem no próximo domingo (27) aquele que comandará o município até 2028. O duelo opõe PSDB e PT, ambos partidos que governaram a maior cidade da região central do Rio Grande do Sul por duas vezes cada. Revivem em nível local um embate que durante duas décadas (de 1994 a 2014) galvanizou as disputas eleitorais no país.
De um lado na corrida para ocupar a prefeitura, está o tucano Rodrigo Decimo, escolhido pelo correligionário e atual prefeito Jorge Pozzobom para dar continuidade à sua gestão. Na outra ponta está o petista Valdeci Oliveira, que já foi duas vezes mandatário municipal e tenta voltar ao cargo.
No primeiro turno, o metalúrgico e atual deputado estadual Valdeci levou a melhor, com 58,5 mil votos, contra 37,2 mil do empresário e atual vice-prefeito Decimo. Assim como todo o país, Santa Maria registrou alto número de abstenções: 57,6 mil deixaram de votar. Os dois candidatos prometem ir atrás desse contingente, capaz de definir qualquer eleição local. Afinal, a vantagem do PT em relação ao PSDB foi de 21 mil votos no primeiro turno.
A disputa entre PSDB e PT em Santa Maria tem antecedentes. Em 2016 o PT tentou interromper gestões do MDB na prefeitura lançando Valdeci, que tinha sido prefeito por dois mandatos consecutivos no início dos anos 2000. Só que o petista perdeu o pleito para Pozzobom, do PSDB. Foi o segundo turno mais apertado do Brasil naquele ano: 226 votos a favor do tucano.
Pozzobom conseguiu se reeleger em 2020 (com o PT tirando terceiro lugar) e tem como vice-prefeito Rodrigo Decimo, que agora enfrenta novamente Valdeci. É a nova versão do histórico duelo entre tucanos e petistas, que, em nível nacional, saíram bastante enfraquecidos nas eleições municipais deste ano.
É uma disputa indefinida, porque ambos os lados exibem trunfos. A esquerda tem grande penetração na cidade em função dos 18 campi universitários da região e 140 cursos. Fez seis vereadores este ano e, no segundo turno, caminha unida. O candidato do PT recebeu apoio do candidato a prefeito do PSOL derrotado no primeiro turno, o psicólogo Alidio da Luz, e da psolista Alice Carvalho, a vereadora mais votada.
Já o PSDB ganhou três apoios importantes. Um deles, da terceira colocada no pleito, a bolsonarista Roberta Leitão (PL). Com ela, podem migrar votos de outra grande força santa-mariense, os militares — a cidade reúne o segundo maior contingente das Forças Armadas no país, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. Outro suporte é dado pelo quarto colocado no primeiro turno, o candidato do Novo, Giuseppe Riesgo, que estimulou voto na chapa dos tucanos. Por fim, Decimo teve formalizado o apoio da direção do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Santa Maria (Sinduscon).
— Neste segundo turno, conseguimos perceber que a nossa campanha cresce a todo momento. São muitos apoios, tanto de candidatos que não chegaram à segunda fase das eleições quanto de lideranças empresariais e políticas. Mas, o apoio principal vem das ruas. Seguimos em diálogos permanentes com a comunidade, mostrando que somos o caminho certo para continuar com os avanços necessários. Santa Maria entende que não podemos retroceder e nem voltar ao passado, e esse entendimento já foi mostrado no primeiro turno e vai ser confirmado no próximo domingo, dia 27 de outubro — comenta Decimo.
O petista Valdeci também se mostra otimista.
— Nós tivemos uma grande vitória no primeiro turno, fazendo mais de 40% dos votos válidos em uma eleição com sete candidatos. Isso não é fácil, e foi conquistado com muito trabalho. Mais de 70% dos santa-marienses votaram contra o governo atual. Nós estamos confiantes, mesmo sabendo da dificuldade de disputar contra toda a máquina da prefeitura. O carinho e a acolhida das pessoas têm sido muito fortes em todas as regiões, e nós agradecemos muito essa receptividade. Santa Maria quer mudança, quer uma mudança segura e concreta — analisa Valdeci.
Os dois candidatos na disputa em Santa Maria contam com cabos eleitorais importantes, inclusive fora da cidade. Decimo é apoiado pelo correligionário Eduardo Leite (PSDB), governador e, possivelmente, aspirante à presidência da República. Já Valdeci tem ao lado a presença constante de Paulo Pimenta, ministro do governo Lula, que chefiou em nível nacional os trabalhos de reconstrução do Rio Grande do Sul pós-enchente e que foi vice de Valdeci na prefeitura (entre 2001 e 2004).
Tanto para o PT como para o PSDB, a vitória em Santa Maria seria vital para manter força estadual numa eleição em que ambos os partidos foram mal, com perda de espaço para agremiações mais à direita.
No campo das propostas, as ideias são muitas, e as queixas, também. Tapar os buracos da cidade é a promessa mais repetida, assim como dotar o município de um aeroporto civil (hoje funciona junto à Base Aérea). Os dois candidatos falam em providenciar postos de saúde abertos à noite, Centros de Atendimento Psicossociais (Capes) 24 horas e incrementar de vez o Santa Maria Tecnoparque, o Distrito Industrial e o projeto do Distrito Criativo Centro-Gare (para fomentar economia criativa, com atividades como artes cênicas, arquitetura, audiovisual, publicidade e propaganda, gastronomia, jogos, entre outras).