Maria do Rosário (PT) foi dormir depois da meia-noite, ainda celebrando a ida, no domingo (6), para o segundo turno contra Sebastião Melo (MDB). Às 6h30min desta segunda-feira (7), já estava em pé, recomeçando a jornada em busca do eleitorado porto-alegrense.
Com 26,28% dos votos no primeiro turno, a petista precisa praticamente dobrar a votação na reta final da campanha. Para tanto, tenta atrair o apoio de adversários como Juliana Brizola (PDT) e o governador Eduardo Leite (PSDB).
Rosário aposta na paridade de tempo na propaganda de rádio e TV para aprofundar suas propostas e elevar o tom das cobranças contra Melo. Pela manhã, eles ensaiaram o primeiro enfrentamento ao se encontraram nos corredores da Rádio Gaúcha.
— Oi, Maria, tá de azul hoje? — provocou o prefeito, citando a cor do blazer da candidata.
— Sim, e tu tá muito observador, hein. Tá faltando um tom de vermelho na tua roupa, porque a cidade pediu mais diversidade — devolveu Rosário.
A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Maria do Rosário a Zero Hora:
Sebastião Melo ganhou o primeiro turno com a maior diferença da história. Em retrospecto, nos últimos anos só houve uma virada, em 2004. Como é que a senhora pretende vencer o segundo turno?
Dialogando com a cidade. A cidade não deu maioria de votos, ela decidiu que o debate tem de continuar. Uma parte importante do eleitorado, 46%, deu votos para nossa candidatura e para Juliana Brizola. E uma parte muito significativa, maior ainda, não foi às urnas. Esse sentimento de mudança permeia quem não foi às urnas, quem votou na Juliana e na gente.
O que muda na sua estratégia no segundo turno?
Fizemos o que devíamos fazer. As grandes vitoriosas, além da democracia e da cidade, fomos nós, as mulheres. Eu, Tamyres e Juliana. No segundo turno, com tempo igual, vamos aprofundar as ideias e o debate que não foi possível no primeiro turno, dado que Melo tinha em seu favor muito tempo de TV.
Que novidades a senhora pretende apresentar, ou que temas pretende aprofundar?
Vou reforçar as propostas e mostrar como vamos fazer. Todas foram construídas com previsibilidade econômica e conhecimento técnico. Seja para garantir que a cidade não alague mais, que passam por limpeza, desassoreamento, casas de bombas, seja por via de obras e alertas, para dar previsibilidade à retirada das pessoas em momentos de chegada das águas. Vamos ouvir e governar com técnicos.
Além da enchente, que outros temas pretende discutir?
Vamos mostrar que o crescimento econômico é possível, algo que não está na campanha do Melo. Ele vê a cidade congelada, sem futuro econômico, tudo é privatizado.
Não se pode renunciar à responsabilidade pública. Nós não somos estatizantes, somos responsáveis.
Não vou transferir a responsabilidade.
De que forma a senhora acredita que o município pode induzir esse crescimento?
Em alguns veios fundamentais. O primeiro, com tecnologia. Temos polos importantes, como o Tecnopuc , teremos o polo tecnológico da UFRGS. O Instituto Federal de Educação está instalando agora o seu campus junto ao Grupo Hospitalar Conceição. Estamos tratando a vinda do instituto federal para a Zona Leste, para formação de mão de obra. Vamos chamar setores privados e públicos, Sebrae, Sesi, Sesc, criar um conselho de desenvolvimento econômico e social com consultoria permanente das universidades. Quero Porto Alegre inserida em três áreas: saúde, turismo e gastronomia.
O presidente Lula vai estar mais presente na sua campanha do segundo turno?
O presidente Lula é meu amigo. Se estivesse em Porto Alegre, votaria em mim. A presença física depende da situação do Brasil nos próximos dias. Ele é o presidente da República, tem que cuidar do Brasil. Mas vou convidá-lo para estar aqui. Ele ganhou a eleição em Porto Alegre e, agora, nitidamente tem dois campos. Eu represento aqui o presidente Lula. O outro candidato vai ter que dizer quem representa.
A senhora fez um aceno da Juliana Brizola. Já conversou com ela?
Mandei mensagem. Vamos conversar. A Juliana foi gigante no primeiro turno e nosso diálogo com o PDT é de muito respeito. Eu sou uma grande admiradora do legado do Brizola, do Jango. O trabalhismo constitui toda a vertente democrática do Brasil e o governador Brizola sempre foi um indignado com o autoritarismo. Então eu tenho certeza que o PDT vai fazer o caminho sempre da democracia.
O PT apoiou Eduardo Leite no segundo turno em 2022. A senhora vai pedir o apoio do governador?
Também mandei mensagem para ele. Não se trata de apoio ou não. Nós pensamos diferente. Mas eu votei no Leite no segundo turno. O outro candidato votou no outro. Então, governador, meu convite ao senhor é que se mantenha no campo da democracia e em quem, independente da linha ideológica, optou pela democracia no governo do Estado e não pelo autoritarismo, não pelos golpistas. Acredito que o governador terá essa coerência.
Faltaram 1.945 votos para a eleição acabar no primeiro turno. Ou seja, a senhora terá de virar votos. Como convencer quem escolheu o Melo a votar na senhora agora?
Não faltou 1,9 mil. Faltou mais de 50%. Esses 50% decidiram que tem segundo turno. E essa é a vitória da democracia. Vai ter debate de igual para igual, olho no olho. Não é a eleição das fake news, não é a eleição do ataque. Será a eleição onde as ideias vão mostrar a sua força e tenho esperança de trazer à reflexão os eleitores que foram com Melo no primeiro turno.
Pela segunda vez consecutiva, Porto Alegre foi a capital de maior abstenção no país, 31% não votaram. Como levar esses eleitores às urnas?
Nada é mais importante do que participar da democracia. A cidade quer mudança, então convido essas pessoas a conhecerem nosso projeto e confiarem na nossa seriedade.
Essa eleição não é sobre o Melo ou a Maria do Rosário, é sobre projetos de desenvolvimento e melhoria da vida das pessoas
A abstenção crescente tem relação com setores da extrema-direita que atacam a política para crescer no conflito.
A coalizão liderada pela senhora obteve 26% dos votos, o menor índice da esquerda desde que há dois turnos. Há uma crise da esquerda na cidade? Como é que a senhora pretende transformar esse piso em vitória?
Nós elegemos uma bancada muito potente, 12 vereadores. O PT ampliou seu número, o PSOL também, o PCdoB manteve. Esse crescimento no Legislativo é parte do nosso fortalecimento. Os números podem ser analisados por diversos ângulos. Hoje, eu considero uma vitória imensurável estarmos aqui, dialogarmos com a sociedade e termos o segundo turno. Nossa missão é seguir crescendo.