Um dia depois do susto levado nas urnas, Eduardo Leite (PSDB) passou a segunda-feira rediscutindo a estratégia para o segundo turno das eleições para o governo do Rio Grande do Sul. Após conduzir toda a campanha tentando se sobrepor à polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o tucano agora discute as conveniências, o momento e, sobretudo, a forma de se posicionar diante da eleição nacional.
Leite avalia que, assim como em 2018, será difícil escapar das cobranças por uma declaração de voto. Quatro anos atrás, diante das pressões dos aliados e do crescimento do voto Sartonaro (que abarcava eleitores de Bolsonaro e José Ivo Sartori no segundo turno), ele declarou o que chamou de “apoio crítico” ao ex-capitão do Exército.
Agora, a situação mudou. Leite não só rompeu com Bolsonaro, inclusive interpelando judicialmente o presidente por insinuações homofóbicas, como enfrenta o maior representante do bolsonarismo no Estado. Ao vencer o primeiro turno, Onyx Lorenzoni (PL) reafirmou essa posição, característica que Sartori não guardava em 2018 e que preocupa o comando da campanha tucana.
Analisando as planilhas de votação, o grupo percebeu que Leite faz votos entre simpatizantes de Bolsonaro e também de Lula. Tal situação exige um cuidado ainda maior na manifestação de apoio, pelos riscos desequilíbrio na calibragem dos eventuais ganhos eleitorais. Em entrevista coletiva pela manhã, Leite disse que ainda é cedo para um anúncio oficial, mas tampouco fechou portas ao PT:
— Tomaremos posição, mas vamos conversar a partir de agora. Não tomarei posição individual antes de conversar com o grupo político. Temos diferenças do ponto de vista da forma de governar, no entendimento sobre as políticas públicas, mas nunca tratamos (o PT) como inimigo, o que abre a possibilidade de diálogo.
Há avaliações distintas na campanha. Ao tempo em que uma declaração de voto em Lula é percebida como aceitar o jogo de Onyx, que estaria ansioso para colar no tucano o rótulo de esquerdista, reativando no segundo turno uma polarização por enquanto inexistente, por outro lado tal iniciativa é vista como importante para atrair a maior parte dos 26,81% de Edegar Pretto (PT).
Antes de qualquer aceno à esquerda, Leite deve esperar as manifestações das direções nacionais do MDB e do PSDB. Se houver adesão das duas siglas a Lula, Leite ficaria mais confortável dizendo que segue orientação partidária e poderia repetir o discurso de “apoio crítico” de 2018, embora agora de sinal trocado.
Em Brasília, já há movimentação da direção petista para buscar o apoio formal de Leite. A sugestão seria que o PT local se aproxime do tucano, o que em tese facilitaria ato recíproco do PSDB paulista em prol de Fernando Haddad (PT) no segundo turno contra Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A bancada estadual do PT deve se reunir nesta terça-feira para avaliar o resultado da eleição e discutir o segundo turno. Os deputados não negam que o eleitor petista terá papel fundamental no segundo turno, mas admitem a dificuldade de conciliação com um governador ao qual fizeram oposição durante quatro nós.
— É difícil para nós. E é difícil para eles. Mas a gente precisa deles para ganhar a eleição nacional, e eles precisam da gente para ganhar aqui — resume o deputado Luiz Mainardi.
Na campanha tucana, é vista a necessidade de engajamento das lideranças partidárias. Um diagnóstico é de que próceres de MDB e PSDB se dedicaram quase exclusivamente à própria eleição. A participação mais efetiva no segundo turno pautou um almoço do vice de Leite, Gabriel Souza (MDB), com deputados e dirigentes emedebistas em um restaurante português na Capital e também reuniões do comitê tucano ao longo do dia.
Outra preocupação é o tom a ser adotado na propaganda de rádio e TV, cujos programas retornam na sexta-feira, agora com 10 minutos pela tarde e mais 10 minutos à noite. Não está descartada correção de rota, com adoção de um discurso mais enfático e que explore fragilidades de Onyx. Uma observação unânime é de que Onyx cresceu na reta final e galvanizou a simpatia do eleitor de direita, mas que estaria próximo do teto, enquanto Leite teria um mercado eleitoral maior a ser explorado no segundo turno.