
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), atua para minar a candidatura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), ao Palácio do Planalto. Aposta de seu partido para disputar a Presidência da República, o parlamentar fluminense, antes alinhado com o chefe da economia do governo Michel Temer, agora busca distanciar o seu perfil do de Meirelles.
A movimentação ocorre em meio à crescente "agenda eleitoral" do titular da Fazenda - na sexta-feira, Meirelles participou de evento evangélico em Brasília, por exemplo. Aliados de Maia e integrantes do próprio governo passaram a intensificar ataques ao ministro.
—Em vez de falar em eleições, ele deveria estar centrado na estratégia para aprovar a reforma da Previdência — disse o deputado Pauderney Avelino (AM), secretário-geral do DEM.
Em entrevista ao Jornal O Globo, Maia disse que acha importante que haja um distanciamento entre ministério e corrida eleitoral.
— Tenho boa relação com o ministro Meirelles e o que digo sempre é tem que tomar cuidado de não misturar ministério com processo eleitoral. Essa é minha preocupação pessoal. Até agora não vi isso, mas tem que tomar cuidado — disse.
Maia, Meirelles e o governador tucano Geraldo Alckmin tentam se apresentar como a candidatura de centro e sonham com o apoio dos partidos da base governista. Temer, para aglutinar essas forças em torno de um nome, tem exigido a defesa de seu legado econômico.
Apesar de Maia buscar a desestabilização da candidatura de Meirelles, seus aliados dizem que o presidente da Câmara vê hoje Alckmin como principal concorrente ao Planalto. A avaliação é de que o ministro da Fazenda não conseguirá concorrer, entre outros motivos porque não terá apoio nem mesmo de seu próprio partido.
Questionado sobre Alckmin, Maia aposta no desgaste causado pela polarização PT-PSDB.
—O governador Geraldo Alckmin vai ter de reorganizar o discurso do partido para encontrar um espaço para a candidatura dele. Ele tem condições, foi governador por vários anos e se reinventou várias vezes em São Paulo. Por governar o estado de maior população do Brasil, já poderia estar numa condição um pouco melhor (nas pesquisas) — disse.
Enquanto a decisão sobre a candidatura de Meirelles fica para abril, como o próprio ministro já afirmou, a estratégia dos aliados de Maia é desgastar o titular da Fazenda. Como ambos defendem a reforma da Previdência, o presidente da Câmara se colocará como "defensor radical" da agenda reformista. Ao mesmo tempo, deixará o "desgaste" com parlamentares para Meirelles.
—Não abro mão da agenda que eu acredito. Não abro mão de defender a Reforma da Previdência. De mostrar para a sociedade que não há outra solução no Brasil que não seja cortando gastos. A gente vai ter que cortar 3%, 4% do PIB nas despesas —afirmou Maia.
Um exemplo desses atritos lançados para Meirelles é o veto de Temer ao projeto que criou um programa de parcelamento de dívidas tributárias, conhecido como Refis, para micro e pequenas empresas. Maia fez questão de não emitir opinião sobre o assunto e deixou claro aos parlamentares que o presidente derrubou a medida por orientação da equipe econômica.
Na semana passada, Maia e Meirelles entraram em choque em meio à articulação para mudar a chamada "regra de ouro", que impede a emissão de dívida para o pagamento de despesas correntes, como conta de luz e salário de servidores.
Juntos
Meirelles minimizou as informações de que Maia tente inviabilizar sua potencial candidatura.
—Ele foi muito importante para a aprovação da PEC do Teto de Gastos e da reforma trabalhista. Estamos trabalhando juntos no objetivo principal que é aprovar a reforma da Previdência e depois manter a agenda de reformas—disse Meirelles.