A um ano das eleições municipais, Caxias do Sul, berço político do governador José Ivo Sartori (PMDB), naturalmente atrai as atenções, porém, ainda está longe de apresentar um quadro consistente para a disputa à prefeitura. São poucos os nomes vistos como prefeituráveis. Apenas dois estão colocados como pré-candidatos até agora: o vereador Daniel Guerra (PRB) e o servidor municipal aposentado Francisco Corrêa (PSOL). O atual chefe do Executivo, Alceu Barbosa Velho (PDT), segue despistando quando o assunto é a possibilidade de concorrer a mais quatro anos.
Com várias frentes de obras em andamento - o Sistema Integrado de Mobilidade é a principal vitrine -, é difícil imaginar que Alceu abrirá mão de tentar a recondução para o comando da segunda maior cidade do Estado. A Festa da Uva é colocada como prazo para o anúncio da definição. A demarcação de tempo, mais do que seguir o formato adotado pelo ex-prefeito Sartori de falar de eleição somente após a realização da principal festa da cidade, deve-se à expectativa de sucesso do evento em tempos de crise econômica, dos movimentos dos partidos de oposição e da base aliada e, consequentemente, das costuras políticas.
Figuras de destaque nos dois partidos que comandam o município - o presidente municipal do PDT e da Festa da Uva, Edson Néspolo, e o secretário-Geral do governo estadual, Carlos Búrigo - já defenderam que a dobradinha PDT/PMDB, que tem como vice-prefeito Antonio Feldmann, seja mantida na disputa do ano que vem. Em princípio, a vontade do prefeito (e de sua família) de concorrer a um novo mandato seria a principal dúvida. Já houve até manifestação pública de que os familiares de Alceu prefeririam vê-lo de volta ao escritório de advocacia. As ofensas públicas, via redes sociais, ao pedetista e seu governo seria um dos motivos.Nesta semana, em entrevista à Rádio Spaço, de Farroupilha, o prefeito chegou a afirmar que quando voltar a trabalhar com a advocacia, manterá o foco em questões de ofensas nos meios online. Alceu deixou a dúvida se vai esperar mais cinco anos para isso. E ainda acrescentou:
- São críticas maldosas que ofendem a honra da pessoa... Eu digo assim: "eu não preciso disso, o que estou fazendo aqui?". Às vezes, o cara que não serve para lustrar o teu sapato fica te xingando.
Uma eventual recusa de Alceu em concorrer colocaria a atual administração numa situação delicada. Nesse caso, o nome de Néspolo surge como o primeiro da lista no partido. Mas, aí, zera tudo. O deputado federal Mauro Pereira (PMDB) também se fortaleceria para encabeçar uma chapa.
Já em relação ao vice Antonio Feldmann, a recente condenação na Justiça, em primeira instância, por não ter assumido a prefeitura em abril de 2014 pode ter reflexos nas definições do próximo ano. O caos administrativo provocado na época com certeza será explorado na campanha eleitoral. Este é um ponto pendente, já que a decisão judicial ainda não é definitiva.
A base de apoio
Entre os partidos da base de apoio do Governo Alceu, o PP é o que desponta neste momento com maior chance de candidatura própria. O retorno do empresário Ovídio Deitos ao partido, depois de pertencer ao PT, alimenta essa hipótese. A possibilidade não é descartada pela direção do PP. A postura adotada pelo vereador progressista Guila Sebben, nos últimos meses, de crítica ao governo municipal (referindo-se à ausência de ciclovias nas obras do SIM) e de enfrentamento ao estadual (pedindo que o PP saia da composição), deixou no ar a dúvida se os progressistas em Caxias poderiam estar ensaiando um novo voo.
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No PTB, o nome do vereador licenciado e secretário municipal de Obras, Adiló Didomenico, aparece como uma possível aposta para uma candidatura majoritária. A tendência no partido é de se manter na atual aliança governista, mas há defesa interna na sigla para que os petebistas lancem um nome. Nos bastidores, há comentários de que, diante de um possível desgaste do vice-prefeito e/ou na hipótese de a dobradinha não se repetir, o nome do secretário de Obras ganharia força para o posto.
O PSB, por sua vez, está com uma plataforma, ligada ao site do partido, visando à coleta de sugestões para a elaboração de um plano de governo. O ex-vereador Vitor Hugo Gomes é um dos principais entusiastas da candidatura própria. Ele chegou a apontar o seu nome e os do secretário municipal da Receita, Paulo Dahmer; do diretor-presidente do Samae, Elói Frizzo; e do ex-candidato a vice-prefeito em 2004, à época pelo PP, Ricardo Golin, como opções.
O PCdoB apresenta uma situação político/ideológica de difícil compreensão. De oposição na campanha eleitoral de 2012 passou a aliado imediato do Governo Alceu, com a negociação de cargos. O PCdoB faz ferrenha oposição ao Governo Sartori, ao mesmo tempo em que a administração municipal tem fortes laços com o chefe do Piratini, pois trata-se da continuidade das duas gestões do peemedebista na prefeitura de Caxias. A administração Alceu se elegeu justamente defendendo a construção do chamado "terceiro andar", proposição da qual o PCdoB se dizia opositor. No caso de uma candidatura própria, embora não se veja movimentação neste sentido, o ex-deputado federal Assis Melo e a ex-secretária estadual de Turismo, Abgail Pereira, são os mais lembrados.
Na rua, o nome da tucana Paula Ioris, que estreou na política como candidata a deputada federal e obteve 21.329 votos, é citado como hipótese. Porém, faltando um ano da eleição, o PSDB tenta reverter em âmbito nacional a destituição do diretório municipal. Sem comando avalizado na cidade, não há como encaminhar negociações.
É importante ressaltar que uma candidatura a prefeito significa campanha eleitoral pronta para a disputa a deputado, que acontece dois anos depois da eleição municipal. Além disso, a negociação num eventual segundo turno é mais valorizada, dependendo do resultado da disputa com cabeça-de-chapa e, logicamente, do número de vereadores eleitos.
Os adversários
No PT, o ex-prefeito Pepe Vargas é o preferido pela maioria dos militantes para uma quinta disputa ao Executivo municipal. A pressão em torno de seu nome será intensificada com o retorno à Câmara dos Deputados, após ter sido ministro em duas pastas no governo de Dilma Rousseff (PT) em 2015. Porém, Pepe não tem sinalizado que poderá concorrer em 2016. Pelo contrário. Nos bastidores, a informação é de que ele seria uma alternativa para a disputa ao Governo do Estado em 2018. Diante disso, não seria interessante disputar a prefeitura, principalmente diante da situação política nacional envolvendo seu partido. Perdendo a eleição municipal, enterraria a chance de concorrer ao governo; vencendo, não poderia abrir mão do mandato dois anos após eleito. Também existe a possibilidade de ir ao Senado em 2018. Por outro lado, há quem entenda que uma candidatura a prefeito de Caxias seria útil para fortalecer uma nova disputa a deputado federal.
O ex-deputado estadual e ex-candidato a prefeito Marcos Daneluz é outra hipótese do PT. Ele é primeiro suplente do partido na Assembleia. O deputado, porém, enfrenta uma situação constrangedora: seu nome foi citado como um dos beneficiários de uma lista de doações ao PT, na campanha do ano passado, feita por empreiteira envolvida na Operação Lava-Jato. O vereador Rodrigo Beltrão, que tem se fortalecido como representante da oposição na Câmara de Vereadores, também é uma possibilidade para representar o PT na corrida à prefeitura.
No PRB, o vereador Daniel Guerra ganhou projeção após ser expulso do PSDB pelos posicionamentos críticos ao Governo Alceu. Ele vem consolidando seu nome na representação de uma fatia do eleitorado contrário à administração municipal e ao PT ou partidos de esquerda. Guerra admitiu ser pré-candidato à prefeitura em junho. O partido já está em tratativas com outras siglas para a possível aliança e está traçando o plano de governo. Hoje, o comando do PRB dá como 90% certo que terá nome na disputa majoritária e confirma que Guerra lidera a preferência para a chapa.
O PSOL anunciou o seu pré-candidato, oficialmente, no início de setembro. É o servidor municipal aposentado Francisco Corrêa.
QUEM JÁ É CITADO
Candidatura de situação - O nome mais provável, e a maior tendência, é o do atual prefeito, Alceu Barbosa Velho (PDT). Caso a base aliada se divida, uma hipótese no momento menos provável, outros partidos lançariam candidatura própria, a começar pelo PMDB.
PT - O nome mais forte é o de Gilberto Pepe Vargas, duas vezes ministro do atual governo da presidente Dilma Rousseff, e que agora está voltando à Câmara dos Deputados. Mas Pepe emite sinais de que prefere não concorrer. Neste caso, o partido teria de descobrir outro nome.
PRB - O atual vereador Daniel Guerra deve ser indicado.
PP - O nome do empresário Ovídio Deitos é uma possibilidade bastante cogitada.
PSOL - O nome do servidor municipal aposentado Francisco Corrêa já foi informalmente indicado.
Política
A um ano da eleição, disputa pela prefeitura de Caxias tem duas pré-candidaturas
Além de Daniel Guerra (PRB) e Francisco Corrêa (PSOL), há sinais de pelo menos mais três nomes: o atual prefeito, Alceu Barbosa Velho (PDT), o ex-prefeito Pepe Vargas (PT) e o empresário Ovídio Deitos (PP)
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