Caxias do Sul chegou ao fim de 2024 com queda no número de mortes violentas e em quatro tipos de roubo na comparação com o ano anterior. Os resultados positivos são creditados à integração entre e os diferentes órgãos de segurança e a um trabalho estratégico de inteligência que mira no enfraquecimento das organizações criminosas.
Índice considerado sensível e que está atrelado à sensação de segurança da comunidade, os chamados crimes violentos letais intencionais (CVLIs) reduziram 26% no ano passado em relação a 2023. Em 2024, foram 74 ocorrências deste tipo no maior município da Serra, contra cem no ano anterior. Entram nesta contagem, por exemplo, homicídios, latrocínios, feminicídios, mortes decorrentes de confronto com a polícia e lesões corporais seguidas de morte.
Se analisados separadamente, os feminicídios apresentaram queda de 50%: em 2023, seis mulheres foram assassinadas neste contexto em Caxias do Sul. Nos 12 meses de 2024, foram três mortes por conta do gênero, segundo a Polícia Civil. Embora a redução seja positiva, combater a violência contra a mulher ainda é considerado um grande desafio para os órgãos de segurança, uma vez que o crime geralmente ocorre dentro do próprio lar da vítima, em um contexto que abrange aspectos sociais e econômicos.
O crime nas ruas, por sua vez, exigiu o foco das forças policiais desde as primeiras semanas do ano passado. Janeiro e fevereiro somaram mais de 30 mortes violentas. Se os números seguissem o ritmo nos meses seguintes, a tendência era de ultrapassar os dados do ano anterior. Assim, os órgãos de segurança traçaram estratégias para conter o nível de violência:
— Quando nós percebemos que tem um índice fora da curva ou em crescimento, imediatamente iniciamos um trabalho que chamamos de protocolo. Nosso protocolo conjunto envolve basicamente medidas especiais de dissuasão. Ou seja, nós concentramos as nossas atividades em medidas e em condutas que visam aumentar a repressão, elucidação e principalmente dificultar cada vez mais a prática delitiva pelos criminosos — explica o delegado regional da Serra, Augusto Cavalheiro Neto, que acrescenta:
— Se eles (criminosos) aumentarem os homicídios na rua e resolverem os seus problemas com homicídios, nós intensificaremos as nossas ações até se darem conta de que eles vão perder muito mais do que ganhar se eles continuarem resolvendo os seus problemas dessa forma.
A estratégia exige os esforços conjuntos da Brigada Militar, Polícia Civil, Polícia Penal, além do Poder Judiciário e prefeitura. Em entrevista à Rádio Gaúcha Serra, na semana passada, o delegado também reforçou a importância do funcionamento do Centro Integrado de Operações (CIOp) inaugurado em 2023. O local conta com câmeras de monitoramento de alta performance, que fazem parte do sistema de cercamento eletrônico da cidade. No CIOp, trabalham policiais militares, guardas municipais, fiscais de trânsito e policiais civis.
"Houve um fortalecimento"
À frente do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO Serra), o coronel Eduardo Cunha Michel, caracteriza o ano de 2024 como difícil por fatores como o pico de criminalidade nos primeiros meses, a crise climática de maio, o assalto ao Aeroporto Hugo Cantergiani e a morte de policiais em serviço. Para ele, os episódios serviram para fortalecer a união, elevando o status de integração das forças de segurança:
— Uniram as lideranças comunitárias, uniram os gestores públicos, municipais, estaduais e federais. E não houve divisão, houve um fortalecimento. Eu vejo um esforço conjunto de resolver os problemas de Caxias do Sul e da Serra — sinaliza o coronel.
Outro fator que contribuiu para a queda dos índices, na opinião de Michel, foi a reorganização dos comandos regionais. Desde o primeiro semestre do ano passado, o CRPO Serra é responsável por 19 municípios. Anteriormente, eram 66 cidades sob o guarda-chuva da unidade. Para o coronel, a redução permite uma atenção mais qualificada à região atendida.
A importância na queda dos roubos
Dados apurados pelo CPRO Serra, a pedido da reportagem, indicam queda em roubos a estabelecimento comercial, a pedestre, à residência e de veículos em 2024, em Caxias do Sul. Percentualmente, a maior redução é nos crimes em residência: em 2023, foram registradas 22 ocorrências deste tipo, contra 14 no ano passado inteiro. A diminuição, portanto, é de 36%.
Embora reconheça que os crimes contra a vida chamem mais atenção da comunidade, o delegado regional da Serra, Augusto Cavalheiro Neto, reforça a importância de reduzir o número de roubos:
— São crimes que podem se tornar latrocínio (roubo com morte) e impactam diretamente na sensação de segurança. O roubo de veículo, por exemplo, transforma a cidade em um caos, porque as pessoas andam com medo até de parar na sinaleira e alguém levar o carro. (É uma situação) que pode virar um latrocínio a qualquer momento — destaca o delegado.
Em 2024, o município não registrou casos de roubo com morte.
Indicadores criminais em Caxias do Sul
Roubo a estabelecimento comercial
2023: 52
2024: 40
Redução de 23%
Roubo a pedestre
2023: 800
2024: 538
Redução de 32%
Roubo à residência
2023: 22
2024: 14
Redução de 36%
Roubo de veículos
2023: 197
2024: 133
Redução de 32%
Fonte: CPRO Serra