Em 30 dias, 271 pessoas foram detidas pela Brigada Militar (BM) em Caxias do Sul. Esta média de nove prisões por dia foi registrada em setembro. A pedido da reportagem, a corporação divulgou um balanço que detalha este volume de trabalho na maior cidade da Serra (confira os dados abaixo). As 271 prisões aconteceram em 69 bairros e tiveram 31 motivos diferentes, sendo o mais comum a violência doméstica, com 47 ocorrências.
O número é expressivo, mas está em queda. Nos últimos 12 meses, o período com maior número de detenções foi maio, com 447 registros. Contudo, este dado foi inflado pelas aglomerações que foram proibidas para evitar o contágio do coronavírus, o que necessitou da intervenção policial na cidade. Contando estes casos da pandemia, foram 3.673 prisões feitas pelo efetivo do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), que é responsável por Caxias do Sul, entre setembro de 2020 e setembro de 2021.
Cabe explicar que o 12º BPM considera prisão toda a ocorrência atendida em que um suspeito é levado para a delegacia ou assina um termo circunstanciado (que é gerado em delitos com pena máxima menor que dois anos). Ou seja, não necessariamente a pessoa detida é encaminhada para um presídio. Dos 271 casos relatados, 198 foram prisões em flagrante, 18 captura de foragidos da Justiça e 55 termos circunstanciados.
O dia com mais prisões foi 12 de setembro, com 23 casos. Em um período de 24 horas, foram atendidas seis detenções por lesão corporal, três por violência doméstica e duas por tráfico de drogas. Os PMs também capturaram dois suspeitos de roubo de carro, um de furto e capturaram um foragido, ao mesmo tempo em que precisavam lidar com casos de menor violência como injúria, perturbação do sossego, ameaça, calúnia e motorista embriagado.
Este volume de atendimentos, que por vezes se acumula, é uma preocupação. A demanda é excessiva para um efetivo cada vez menor. Esta necessidade de atender chamados do 190 e apresentar prisões na delegacia, o que costuma levar horas, é a explicação para a dificuldade de ter policiais nas ruas — o principal pedido da população caxiense há anos.
— O nosso desafio maior são os recursos, que são finitos e historicamente estão encolhendo. Um dia muito movimentado prejudica bastante o planejamento. Especialmente este trabalho para evitar crimes: estar parado num local de visibilidade ou próximo a locais de grande circulação de pessoas. Não temos como mensurar o quanto evitamos de crimes com a presença do policial nas ruas — aponta o major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º BPM.
A notícia positiva é que há uma expectativa de Caxias do Sul receber 40 novos policiais militares até o final da ano. O reforço viria da nova turma que está em treinamento. A vinda dos soldados ainda não é oficial, mas o comando do 12º BPM admite que faz um esforço para sensibilizar para a necessidade de mais policiais em Caxias do Sul.
— Hoje otimizamos da melhor forma o emprego do policiamento pela análise criminal, os indicadores de local e horários em que acontecem os crimes, todo um trabalho de inteligência para ser o mais efetivo possível. Mas o recurso humano é o principal. É o que a população mais nos pede: policiais nas ruas — admite o major Carvalho.
Violência doméstica é o principal chamado pelos PMs
O balanço de setembro mostra que 17% das prisões aconteceram em situações de violência doméstica. Foram 47 casos de maridos, namorados ou familiares que agrediram ou ameaçaram mulheres — média de três casos a cada dois dias. Estas detenções incluem ex-companheiros, que não respeitam medidas protetivas.
Infelizmente, os policiais militares relatam que esta é uma rotina. Os chamados por brigas em ambiente doméstico são diários e o brigadiano tenta fazer o papel de conciliador. Em nem todas as discussões familiares acontecem prisões, mas, respeitando a Lei Maria da Penha, os PMs orientam sempre sobre a rede de proteção à mulher. Em casos de agressões, mesmo que leves, estes homens são conduzidos à delegacia para registro.
— São situações que costumeiramente nos dão bastante trabalho. São diversos chamados e, normalmente, é preciso conduzir as partes (para a delegacia), solicitar exame de corpo de delito (para atestar lesões) e aguardar se será determinada uma medida protetiva. Temos que dar todo este amparo para a vítima. Em regra, são ocorrências demoradas, de duas a três horas de atendimento, que ocupam boa parte do nosso tempo — relata o major Carvalho.
Além destas 271 prisões, o comando do 12º BPM ressalta que há outros inúmeros chamados que são atendidos pela BM diariamente. Segundo o subcomandante, há casos de averiguação de denúncia ou abordagem de suspeitos em que não há flagrante.
— É comum quem está se sentindo intimidado com a presença de alguém suspeito, com receio que algo possa acontecer, acionar o 190. Uma viatura é enviada lá para verificar e, na maioria das vezes, não há motivo para prisão. Perturbação do sossego também é muito comum. Apenas da guarnição se aproximar, a situação já se resolve e a parte denunciante decide não fazer mais um registro.