O microempresário que foi detido quando quebrava o próprio carro, que estava sendo recolhido por estar com o licenciamento vencido, irá processar a Guarda Municipal de Caxias do Sul. O caso aconteceu na tarde de terça-feira (28), quando Marcelo Soares Sodre, 45 anos, passou em uma blitz na Avenida Mario Lopes, no bairro Fátima. A abordagem foi filmada pela esposa do motorista.
Ao saber que perderia seu Uno, o vendedor de eletrodomésticos usados pegou um bastão e começou a destruir o próprio carro. Guardas municipais se aproximaram e ordenaram que Sodré parasse. Ele respondia que o carro era seu e era seu direito destruir. Foi necessário o uso de armas de choque e algemas para deter o motorista.
Nesta sexta-feira (31), Sodre registrou uma ocorrência na Polícia Civil contra os guardas municipais. O vendedor afirma que foi espancado dentro da viatura da Guarda e pretende processar os envolvidos. A detenção de Sodre já havia sido registrada como uma ocorrência de "Outros Crimes" e está em análise pela Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).
A reportagem contatou com a Secretaria Municipal de Segurança Pública, mas até as 19h50min não havia uma manifestação sobre o caso.
Pioneiro: Por que procurou a polícia hoje (sexta-feira)?
Marcelo Soares Sodre: Fui registrar o que aconteceu, porque quero processar estes guardas municipais. Estou com uma fratura na costela, da surra que levei. Estou com uma advogada e irei fazer o exame (de corpo delito). Eles me deram dois tiros de choque, mas não me derrubaram porque sou alto. Daí usaram a força, juntou vários (guardas) e me colocaram na viatura algemado. Foi lá dentro que me bateram com cassetete na cabeça e nas costas. Também me deram uma cotovelada que quebrou meu dente. Na delegacia, quando viram a minha ficha (limpa), começaram a me chamar de senhor.
O que aconteceu na terça-feira?
Fui parado pelos amarelinhos, estava com minha família junto. Perguntei ao fiscal se podia quebrar o carro, afinal era meu, e ele disse que sim. Só que os guardas municipais vieram, me deram choque e me derrubaram. Depois, me colocaram dentro da viatura e me espancaram.
Estava com o licenciamento vencido?
Sim, estava sem os documentos e também tinha muita multa no veículo. Sabia que não ia mais ter o carro, daí perguntei ao amarelinho, que respondeu que eu poderia fazer o que quisesse com o carro. Peguei o bastão e comecei a quebrar. Os guardas vieram e me mandaram parar. Só que o carro era meu. Eu queria quebrar.
Por que não conseguiria reaver o carro?
É um Uno, está valendo uns R$ 7 mil. Só que já tinha R$ 4,5 mil de multas. Não tinha como, não valia a pena pagar.
Por que tinha tanta multa?
Foi porque emprestei o carro, daí caiu tudo em mim.
Sabia que estava com todas estas multas e o licenciamento vencido?
Sim. Só que precisava buscar a minha nenê. Me arrisquei, eu sei que estava errado.
Estava alterado?
Não, simplesmente cheguei e quebrei o meu carro. Não estava irritado e os dois vídeos gravados mostram. Eles alegaram que fui para cima deles, em nenhum momento fiz isso.
Por que não obedeceu a ordem de parar?
Não obedeci porque queria quebrar o carro mesmo, pois o carro era meu. Podia fazer o que eu quisesse, como o fiscal (de trânsito) tinha me falado. Já vi vários vídeos que quebravam o carro e iam embora, sem acontecer nada. É que estes guardas municipais são abusados. Têm muitas reclamações contra eles.
O senhor respondia aos guardas?
Nada, não xinguei ninguém. Só respondia que o carro era meu. Quando vieram para cima, larguei o bastão. Eu me rendi. Na abordagem, caiu vários em cima de mim. Um fiscal de trânsito até quis tirar o celular da vinha esposa. Também um outro motorista que estava passando gravou o que acontecia. Em nenhum momento reagi. Eles não podiam me surrar.
Como está a repercussão do fato?
Está todo mundo indignado (com os guardas). Está em vários lugares.
Por que tinha o bastão no carro?
Sempre tive. Se acontecesse alguma coisa, como um assalto, ele estava lá.
Quanto tempo o carro estava assim?
Faz uns dois anos que estava vencido, mas andava com ele. Não sempre, às vezes. Não conseguia comprar outro carro. Minhas vendas caíram, está complicada a situação. Até procurei como legalizar, mas não consegui. Tenho um rapaz que faz os fretes (das vendas da sua microempresa), que me ajuda.
Por que quebrar o carro?
Ia deixar para eles vender o carro? O meu carro? Lá no Detran é isso que acontece. Eles vendem, fazem leilão. Então, ninguém ia ficar com o carro. Não é que me irrite, mas, na minha visão, fiz o certo. Se eu não posso ter, ninguém mais vai ter.