Três anos após a perseguição, foi marcado o júri popular dos três policiais militares acusados de matar Lucas Raffainer Cousandier, 19 anos, e simular um tiroteio em Caxias do Sul. O julgamento ocorrerá no dia 18 de março de 2019, às 9h30min. Emerson Luciano Tomazoni, Gabriel Modesto Ceconi e Devilson Enedir Soares respondem por homicídio qualificado, fraude processual, denunciação caluniosa e porte ilegal de arma. Os três brigadianos seguem recolhidos em prisão preventiva no Presídio Policial Militar.
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Natural de Bento Gonçalves, Cousandier era passageiro de um Ka que não obedeceu a abordagem policial na Avenida Itália, em Caxias. O motorista Felipe Veiga, em depoimento, confessou que tentou fugir por ter ingerido bebida alcoólica naquela noite. A perseguição terminou na Perimetral Sul, próximo ao entroncamento com a Avenida São Leopoldo, no bairro Kayser, onde o motorista perdeu o controle do Ka. Cousandier foi atingido com um disparo na cabeça e morreu no hospital.
Inicialmente, a ocorrência foi informada como um confronto com a viatura alvejada e dois revólveres calibre .38 apreendidos. O caso sofreu uma reviravolta dias depois, quando a Brigada Militar localizou o verdadeiro dono de uma das armas. Segundo a investigação da própria corporação, dias antes da perseguição, os policiais teriam invadido a casa de um morador do bairro Planalto Rio Branco, em Caxias, e recolheram um revólver que pertencia ao homem. O sistema GPS da viatura registrou que o carro esteve na moradia durante cerca de 50 minutos, o que confirmou a versão do dono da arma repassada à BM.
A perseguição
A perseguição, que teve início na Avenida Itália, passou pelas ruas Sinimbu, Doutor Montaury, Dezoito do Forte, Garibaldi, São Leopoldo tendo como fim a Avenida Perimetral Bruno Segala, onde após atravessar o canteiro, o veículo Ka acabou parando próximo à Igreja São Francisco. Os PMs afirmam que o motorista do Ka realizou diversas manobras perigosas. Em depoimento, Felipe Veiga confirmou a resistência e que passou pelo semáforo vermelho.
Defesa de Emerson Luciano Tomazoni
Em depoimento, Tomazoni disse que "quando percebeu que os rapazes não eram marginais, ficou apavorado. Na sequência, saiu com a viatura do local, levou até os fundos de uma rua e efetuou disparos na viatura. Confirma que efetuou algumas medidas para que se fraudasse a ocorrência, a fim de caracterizar uma legítima defesa".
O advogado Christian Penido Tombini afirmou que a tese defensiva "será a mesma que o réu sustenta desde que foi afastado do ofício e recolhido no presídio militar".
Defesa de Devilson Enedir Soares
A reportagem não conseguiu contato com o advogado Ricardo Pereira Cantergi, responsável pela defesa de Soares. Em seu depoimento, o réu afirma que era o motorista da viatura e relata a perseguição, onde "não viu nenhum disparo efetuado em direção" a viatura e que os seus colegas "efetuaram, sim, disparos de advertência". Após o Ka rodopiar e parar na pista, Soares conta que desembarcou e atirou duas vezes para o chão. Quando o veículo "andou mais um pouco", o réu afirma ter ouvido "os disparos efetuados pelo Tomazoni e, depois, percebeu um furo no vidro" . Refere também "que depois que perceberam que o jovem estava baleado, Tomazoni, sem prévio aviso, acabou fazendo o que fez".
Defesa de Gabriel Modesto Ceconi
A defesa é feita pelos advogados Ivandro Bitencourt Feijó e Maurício Adami Custodio. Em depoimento, Ceconi disse que, "depois de uns dois dias, ficou sabendo que Lucas (Cousandier) veio a falecer e pediu para o Tomazoni contar a verdade". Eles teriam tentado falar com o comando do 12º BPM, mas foram informados que já havia o pedido de prisão preventiva pronto. O réu aponta que "somente depois de dois ou três dias da prisão que foram ouvidos e relataram o que realmente ocorreu."
— Ele participa da ocorrência policial. Sobre o desdobramento, ele (Ceconi) afirma que "não concorri para isso", mas que "errei por não ter feito alguma coisa". Só que o pós-fato é muito complexo — alega Custodio.
Ministério Público
A reportagem não conseguiu contato com o Ministério Público de Caxias do Sul ou a promotora Silvia Regina Becker Pinto.
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